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Política Integral: Em busca de uma política integrada à espiritualidade

Por L.C. Dias

"No âmbito do interpessoal, no domínio de como você e eu nos relacionamos como seres sociais, não existem áreas mais importantes do que a espiritualidade e a política." 
Ken Wilber 

“Os economistas e os revolucionários querem alterar o ambiente sem alterar o indivíduo; mas a simples alteração do ambiente, sem a compreensão de nós mesmos, não tem significação alguma. (…) Para se realizar uma transformação revolucionária na estrutura da sociedade, deve cada indivíduo compreender-se a si mesmo como um “processo total”, e não como uma entidade separada, isolada." 
Jiddu Krishnamurti 

“Não há mudança possível sem passar pelo autoconhecimento individual. Séculos e séculos de mudanças sociais e políticas falharam porque negligenciaram a mudança das pessoas. Só podemos curar o tecido através das células, as pessoas”. 
Claudio Naranjo 

"Hoje em dia somos tão interdependentes, estamos interconectados tão estreitamente, que sem um sentido de responsabilidade universal, sem um sentimento de fraternidade universal e sem a compreensão e a convicção de que realmente somos parte de uma grande família humana, não podemos esperar transcender os perigos que ameaçam a nossa existência e muito menos alcançar a paz e a felicidade." 
Dalai Lama 

Para Ken Wilber - pensador estadunidense criador da Abordagem Integral - a questão política mais premente hoje, tanto nos Estados Unidos quanto no resto do mundo, é um modo de integrar a tradição do liberalismo com uma espiritualidade genuína: 

“Nunca na História esses dois cordões do esforço humano foram entrelaçados de um modo aceitável. Na verdade, o liberalismo moderno (e o movimento geral do Iluminismo europeu) veio à luz, em grande medida, precisamente como uma força contra a religião tradicional. O brado de guerra de Voltaire "Lembrem-se das crueldades!" ressoou por todo o continente: lembrem-se das crueldades infligidas a homens e mulheres em nome de Deus, e acabem com essas brutalidades, e com esse Deus, de uma vez por todas. 

Isso deixou a religião, na maioria dos casos, nas mãos dos conservadores. E assim, até os dias de hoje, carregamos nas costas dois campos armados até os dentes, cada um seriamente desconfiado do outro. 

De um lado, temos os liberais, que defendem os direitos e liberdades individuais contra a tirania do coletivo, e que, portanto, suspeitam profundamente de todo e qualquer movimento religioso, precisamente porque esses movimentos estão sempre prontos a impor suas crenças aos outros e a dizer-lhes o que devem fazer para salvar a alma. O liberalismo iluminista começou a existir historicamente para lutar contra essa tirania religiosa, e guarda, na sua essência, uma grande desconfiança, que chega às vezes ao ódio, de todas as coisas religiosas e espirituais, de tudo o que seja vagamente divino.” (1) 

Seguindo com a exposição de Wilber: 

“Será que não podemos achar um modo de ficar com as forças conservadoras (particularmente sua aceitação da espiritualidade) e jogar fora a tirania cultural? E será que não podemos achar um jeito de ficar com a força liberal (de liberdades individuais) e jogar fora a tirania da anti-alma? 

Para resumir, será que podemos encontrar um liberalismo espiritual? Um humanismo espiritual? Uma orientação que coloque os direitos do indivíduo em contextos espirituais mais profundos, que não negue esses direitos, mas lhes dê fundamento? Será que uma nova concepção de Deus, do Espírito pode encontrar uma ressonância nas metas mais nobres do liberalismo? Será que esses dois modernos inimigos - Deus e liberalismo- podem achar, de algum modo, uma base comum? 

Creio, como já afirmei, que não há outra questão mais importante, seja de que variedade for, ao se encarar hoje o mundo moderno e pós-moderno. 

A espiritualidade conservadora sozinha vai continuar a dividir e fragmentar o mundo, simplesmente porque, com essa linha, você só pode unir as pessoas se elas se converterem ao seu Deus específico e não importa que esse Deus seja Jeová, Alá, Shinto ou Shiva: é em nome deles que se travam as guerras. 

Não, os ganhos do Iluminismo liberal precisam ser firmemente conservados, mas colocados no contexto de uma espiritualidade que desarme e responda, em profundidade, as objeções verdadeiramente legítimas e pontuais levantadas pelo Iluminismo. Será uma espiritualidade que se baseia no Iluminismo, em vez de negá-lo. Será, em outras palavras, um Espírito liberal. 

Afirmo que a orientação espiritual apresentada nas próximas páginas é um passo precisamente nessa direção. Na verdade, quase todos os meus livros (especialmente The Atman Project; Up from Eden; Eye to Eye; A Sociable God; Sex, Ecology, Spirituality; A Brief History of Everything) são preâmbulos exatamente para esse tópico: a busca por um Deus liberal, um Espírito liberal, um humanismo espiritual ou espiritualismo humanista, ou qualquer que seja a palavra que se decida afinal ser capaz de captar a essência dessa orientação. 

Um Deus liberal depende, acima de tudo, de como respondemos à pergunta: Onde localizamos o Espírito?” (2) 

Neste mesmo sentido, segundo Edgar Morin, nos encontramos em um impasse frente à atual crise planetária: 

"As duas vias de uma reforma da humanidade atingiram o mesmo impasse. O caminho interno, o dos espíritos e das almas, aquele da ética, caridade e compaixão nunca conseguiu reduzir radicalmente a barbárie humana. O caminho externo, o da mudança das instituições e das estruturas sociais, levou ao último e terrível fracasso, onde a erradicação da classe dominante e exploradora levou à formação de uma nova classe dominante e exploradora, pior do que a anterior. É verdade que as duas vias precisam uma da outra. Seria necessário combiná-las. Como?" (3) 

Acredito que a resposta para esta questão emergencial - como combinar as duas vias transformativas, a pessoal e a coletiva, como formulado sucintamente por Morin - deve ser buscada em uma instância cognitiva superior, por intermédio de uma visão mais abrangente e profunda da realidade, que possa ser capaz de viabilizar uma síntese integrativa dessas duas perspectivas complementares. Pois, como exortava Einstein: “O pensamento que criou o problema não pode ser o mesmo que o solucionará.“ 

Tal combinação deverá passar, necessariamente, por uma revisão daquilo que atualmente compreendemos como espiritual e político, dois termos degradados pela modernidade, mas que precisam ser ressignificados etimologicamente para que sejam úteis neste contexto crítico de transição planetária. 

Vejamos como o filósofo catalão Raimon Panikkar define espiritualidade: 

"A espiritualidade é como uma 'carta de navegação' no mar da vida do homem: a soma dos princípios que dirigem o seu dinamismo para 'Deus', dizem alguns; para uma sociedade mais justa ou para a superação do sofrimento, dizem outros. Podemos, pois, falar de espiritualidade budista, embora os budistas não falem de Deus; e também de uma espiritualidade marxista, ainda que sejam eles alérgicos à linguagem religiosa. Em seu conceito amplo, a palavra espiritualidade expressa sobretudo uma qualidade de vida, de ação, de pensamento etc., não ligada a uma doutrina, confissão ou religião determinadas, ainda que seus pressupostos sejam facilmente reconhecíveis." (4) 

Portanto, a espiritualidade genuína está muito além de qualquer crença religiosa – não é espiritualismo - é um estado sublime de consciência, uma postura perante a vida, pois é o resultado da percepção direta da unidade de toda a vida, da interdependência de todos os fenômenos, da nossa identidade com o fundamento do Ser. 

Agora, recorrendo novamente a Panikkar, vamos buscar resgatar o nosso entendimento sobre a dimensão política da realidade: 

“A política era, portanto, a arte e a ciência de reger os assuntos públicos e também de saber viver na esfera do público posto que o homem é, por natureza, um animal político, segundo a conhecida frase de Aristóteles. 

Governar é uma atividade humana. Mas, com que objetivo? Platão, que havia refletido sobre isto, já dizia que era a realização da dikayosynê (justiça). Esta justiça, diz Platão, requer sôfrosynê, estado da mente sã, a harmonia entre governantes e governados. 

Para realizar esta sófrosynê, esta harmonia, os cidadãos e os governantes devem ser virtuosos. Virtude é um conceito fundamental do político. Desde Platão, a Antiguidade reconheceu que a virtude política por excelência é a sôfrosynê junto com a justiça, a dikayosynê. Esta sôfrosynê é a atitude fundamental do homem. No fundo, é o 'saber ser homem', e, como o homem se realiza somente na polis, é a virtude política básica.” (5) 

Então, a partir desta visão ampliada da política, Panikkar desenvolveu o conceito de metapolítico, como o fundamento antropológico do político, o ponto de intersecção entre o homem e o todo: 

“A história humana não se reduz a uma sucessão de guerras A atividade política não consiste exclusivamente em um conjunto de manobras para alcançar o poder. As guerras formam parte da história; as lutas pelo poder também fazem parte da política. Mas há algo mais, que não é um plus, um fator adicional, já que é um elemento constitutivo do político. Aqui tocamos o metapolítico. 

Na atividade política, o homem tem êxito e se realiza ou fracassa e se sente frustrado; forja seu próprio destino, ao qual não pode subtrair-se. A política não é uma especialidade dos políticos e menos ainda dos politólogos. É o patrimônio do homem, posto que é a política que nutre a vida do homem, contanto que seja inseparável do metapolítico. A vida humana é uma existência política na medida em que no fundo da política está o metapolítico. 

A atual situação mundial exige 'a mobilização dos cidadãos' nos dizem. Mas não se trata aqui da tomada de uma Bastilha chamada Terra: trata-se de uma tomada de consciência chamada metapolítica. Não se trata de uma luta pelo poder político trata-se muito mais de uma luta - leia-se uma ascese - para uma consciência plenária do ser humano para a superação da dicotomia do individual e do coletivo, e também a do humano e do divino - sem abolir, no entanto, as distinções. As tensões secular/sagrado, laico/clerical, crente/não crente, assim como as dialéticas senhor-escravo, masculino-feminino, não podem ser negadas, mas devem integrar-se em um todo, sem cair, no entanto, em uma indiscriminação amorfa. 

A realidade não é monista nem dualista. As polaridades do real se mantêm graças a seu caráter ternário. O metapolítico designa o local de encontro entre a atividade política do homem e de seu destino final (seja qual for o seu nome): designa o ponto de intersecção do homem no todo.“ (6) 

Portanto, a espiritualidade e a política são aspectos complementares da vida humana, abrangem o interno e o externo, o pessoal e o coletivo, o privado e o público, o indivíduo e a sociedade. Trata-se de combinar a espiritualidade, a arte de viver, com a política, a arte de viver juntos. Esta combinação não pode ser negligenciada sem que corramos o risco de sustentar uma visão unilateral e limitada da realidade. 

Neste sentido, considero que somente através de uma transformação radical da consciência pessoal e da mentalidade coletiva, de forma sinérgica e interdependente, é que será possível darmos o próximo salto evolutivo em direção a uma civilização planetária mais justa, livre e fraterna. 

A seguir, um artigo introdutório sobre Política Integral - modelo desenvolvido por Ken Wilber: 

"Escolhi a palavra integral para representar essa abordagem global. Integral significa integrativo, inclusivo, abrangente, equilibrado; a ideia é aplicar a orientação integral aos diversos campos do conhecimento e das realizações do ser humano, incluindo a integração entre ciência e espiritualidade. A abordagem integral é importante não somente para a política: ela altera profundamente nossas concepções de psicologia e mente humana; de antropologia e história humana; de literatura e significado humano; de filosofia e busca da verdade; tudo isso, creio, é essencialmente modificado por uma abordagem integral que procura reunir o melhor de cada um desses campos num diálogo mutuamente enriquecedor." (7) 

No artigo - produzido pelo sociólogo Gregory Wilpert, diretor do Centro Integral de Políticas do Integral Institute - o autor busca oferecer uma visão alternativa para o problema espinhoso e mal compreendido da relação entre política e espiritualidade, apresentando uma terceira posição fundamentada na abordagem integral wilberiana. 

Para complementar a exposição, sugiro que o assunto seja aprofundado pela leitura das demais postagens já publicadas no Além da Crença: 
Certamente, não existe questão mais crítica a ser privilegiada pela humanidade na atualidade!

Post Scriptum:

Após a postagem, alguns leitores questionaram sobre a contraditória menção, no artigo anexo, da colaboração do bilionário financista George Soros - judeu de origem húngara, radicado nos Estudos Unidos - na concretização de uma Política Integral. Na verdade, não consigo conceber qualquer interesse por parte de Soros, ou de qualquer partidário da ideologia neoliberal, em defender uma terceira posição política espiritualmente orientada.

Para justificar esta tese, temos que compreender que no atual contexto estadunidense - onde foi concebida a ideia de uma Política Integral - Soros é o principal articulador e opositor do conservadorismo de Trump. Para se ter uma ideia da dimensão deste confronto ideológico, basta estar ciente que milhares de cidadãos norte-americanos assinaram uma petição pedindo ao presidente Trump que privasse Soros da cidadania americana e o expulsasse do país, acusando ele, sua família, seus negócios e a Open Society Foundations por espalhar os ideais do pós-modernismo e o do anti-conservadorismo nos EUA e em todo mundo:

“Pedimos que seja emitido um mandado para as ações voluntárias de Soros para desestabilizar e arruinar nossa economia, empurrando sua agenda anti-americana de fronteiras abertas globalistas da Nova Ordem Mundial com a intenção de destruir o nosso país." (8)

Segundo o texto da petição, Soros “forneceu fundos para o direito ao aborto, o ateísmo, a legalização das drogas, a educação sexual, a eutanásia, o feminismo, o controle de armas, a globalização, a imigração em massa e outras experiências radicais em engenharia social”. (9)

Diríamos, na melhor das hipóteses, que Soros representaria uma ala radical do ultra liberalismo norte-americano, um suposto defensor da paz, das liberdades individuais, das minorias, dos excluídos e contra os valores tradicionais obsoletos. Porém, tenho a convicção que tal liberalismo não pretende servir de veículo para uma genuína Política Integral. Em minha opinião, Soros está utilizando a ideologia liberal de forma deturpada para “vender”, aos incautos e idealistas, uma suposta globalização humanitária dos recursos econômicos mundiais, mas que na verdade oculta interesses sinistros de uma elite globalista.

Portanto, talvez o “canto da sereia” sorosiano tenha “magnetizado” alguns proponentes sinceros de uma Política Integral, cujo ideal, como exposto no artigo do sociólogo Wilpert, seria a síntese dos mais elevados valores tradicionais e liberais, de forma complementar e integral, visando fundamentar os princípios de uma nova realidade planetária, mais justa e fraterna, onde a diversidade cultural não seria abolida e nem obscurecida em prol de uma deletéria uniformidade global - uma Nova Ordem Mundial.

Já em relação à proposta de um neo-keynesianismo, é importante salientar que o liberalismo em si não é um "mal", mas, como qualquer doutrina ou ideologia pode ser deturpada e utilizada para manipular e explorar, como vem sendo feito mais recentemente com o neoliberalismo. Portanto, a globalização é um tema delicado, mas urgente, pois está diretamente ligado aos perigos de uma Nova Ordem Mundial (NOM), norteada pelos interesses econômicos de uma elite global de financistas, a exemplo de Soros, que não intencionam o bem-estar da maioria da população mundial.

Entretanto, a globalização será o nosso próximo passo evolutivo como humanidade. Se não for acompanhada de uma planetarização da consciência - termo cunhado por Dane Rudhyar - poderemos cair nas mãos das forças adversas ocultas que estão por trás da instauração de uma possível NOM, onde Soros e seus comparsas são meros fantoches, e talvez vamos desesperadamente presenciar a concretização das temidas distopias de Orwell e Huxley.

Na verdade, estamos atravessando tempos de crise, de transição planetária, o término de um ciclo evolucionário para o planeta e a para a humanidade. Tempos difíceis, onde o discernimento aliado à intuição são ferramentas indispensáveis para separar o joio do trigo. Neste sentido, precisamos nos aprofundar neste tema emergencial, e alertar sobre a importância da dimensão espiritual da política. Não vejo questão mais premente na atualidade: a responsabilidade universal do indivíduo.

Na próxima postagem, vou buscar uma exposição alternativa e complementar para o tema, partindo da visão mística de Sri Aurobindo sobre metapolítica e supramentalidade.

Em 05/10/2018.

L.C. Dias 

NOTAS

(1) O Olho do Espírito, Ken Wilber, Cultrix, 2005. 
(2) Ibidem n.1 
(5) O Espírito da Política, Raimon Panikkar, Triom, 2005. 
(6) Ibidem n.5 
(7) Ibidem n.1 
(8) P.S.: A ideologia de Soros exposta
(9) Ibidem n.8

Política Integral: Uma terceira posição espiritual 

Por Gregory Wilpert 

Neste momento de turbulência ideológica, quando as velhas ideologias de esquerda, socialismo, liberalismo e conservadorismo, não capturam o imaginário político na forma como eles fizeram uma vez, são necessárias novas visões políticas. 

Alguns tentaram formular uma "terceira posição" entre a socialdemocracia e o conservadorismo. Outros, como Michael Lerner, propuseram uma abordagem mais espiritual que transcende tanto a esquerda quanto a direita. 

A seguir, gostaria de apresentar uma outra visão, a da Política Integral, que é muito compatível com a abordagem de Michael Lerner, mas é baseada no trabalho de Ken Wilber. 

O QUE É UMA TERCEIRA POSIÇÃO? 

Historicamente, as terceiras posições surgiram sempre que as pessoas descobriram que as ideologias políticas dominantes existentes não tinham respostas. 

No século XIX, o socialismo originalmente procurou se tornar uma terceira posição entre o conservadorismo e o liberalismo clássico (basicamente o capitalismo de livre mercado na época). Mais tarde, no século XX, a social-democracia se desenvolveu como uma terceira posição entre o socialismo e o conservadorismo / mercado capitalista livre. 

Não é de admirar que agora existam políticos e teóricos, como Clinton/Gore e o Democratic Leadership Council, como também, o New Labor Party de Tony Blair, que propõem uma terceira posição entre os programas sociais-democratas e neoliberais. 

Mas em vez de representar uma transcendência dos sistemas de crenças existentes, muitas vezes o novo programa acaba no centro ideológico entre as duas ideologias dominantes. Essa forma centrista de terceira posição é, na verdade, uma transigência, em vez de uma nova teoria política que transcenda o antigo e produza respostas duradouras para os problemas sociais não resolvidos. 

Uma verdadeira terceira posição para o século XXI deveria transcender e ir além das ideologias precedentes. A política integral está adaptada a essa ideia. Analisando a relação entre a maioria das ideologias existentes e apresentando claramente uma nova abordagem à política; aquela que integra o melhor do que cada um tem a oferecer e que transcenda suas deficiências, a política integral apresenta uma verdadeira alternativa. 

A TERCEIRA POSIÇÃO INTEGRAL 

Ken Wilber, especialmente em seus últimos escritos, apresentou um mapa abrangente do cosmo e do seu desenvolvimento (ver especialmente em uma Teoria de Tudo, “Sex, Ecology, Spirituality”, Uma Breve História de Tudo) que pode ser utilizado para o mapeamento de sistemas de crenças políticas. 

Para resumir brevemente, Wilber sustenta a visão de que todos os sistemas são simultaneamente totalidades e partes: o que ele, seguindo Arthur Koestler, chama de Hólon. Isto significa que qualquer sistema que poderíamos vislumbrar, seja ele um indivíduo, um átomo, uma sociedade, ou um sistema de crenças, é ao mesmo tempo algo que é parte de um todo maior, incorporado em um contexto mais amplo, e uma unidade relativamente independente. Além disso, qualquer Hólon dado tem um interior e um exterior. Finalmente, pode-se examinar o Hólon como uma unidade individual separada e também em seu contexto coletivo. 

Wilber revelou um mapa que conceitualmente organiza hólons. Como a Grande Cadeia do Ser dos séculos anteriores, a chave para entender esse mapa é que cada Hólon pode transcender a si mesmo e, consequentemente, introduzir níveis ou contextos mais profundos. 

Esses quatro quadrantes, como Ken Wilber se refere a eles, correspondem às formas clássicas de conceituar o mundo tanto na filosofia oriental quanto na ocidental. 

No Ocidente, desde filosofia grega antiga, e especialmente desde Immanuel Kant, o reino da filosofia foi dividido em verdade (a verdade objetiva), no bom (verdade moral), e no belo (verdade estética). No Oriente, o budismo tem uma concepção semelhante na forma de Buda (a verdade individual), Dharma (a verdade objetiva), e a Sangha (a verdade coletiva). 

Em termos gerais, a verdade objetiva corresponde à ciência, o ponto de vista externo em todos os hólons, tanto individuais quanto coletivos (os quadrantes à direita). A verdade subjetiva é típica da arte, que é o ponto de vista interno de qualquer Hólon (o quadrante superior esquerdo). E a verdade moral é própria da ética e da cultura, o ponto de vista coletivo interno de qualquer Hólon (o quadrante inferior esquerdo). 

Como os sociólogos vêm apontando, desde Max Weber, a conquista e, ao mesmo tempo, o desastre crucial da sociedade moderna consistiu em separar essas três esferas uma da outra. Esta separação permitiu que cada esfera se desenvolvesse de acordo com sua própria lógica, em vez de estar subordinada à religião, como foi o caso durante a Idade Média e antes, quando a Igreja determinou o que era verdade, o que era certo e o que era belo. A subordinação desses reinos à doutrina da Igreja tornou o desenvolvimento de cada reino muito difícil. 

Com o princípio da modernidade, os três domínios da arte, da ciência e da moralidade poderiam finalmente se desenvolver de acordo com suas próprias verdades. Hoje, no entanto, essa diferenciação se tornou tão extrema que se tornou uma forma de dissociação. Cada esfera foi completamente desconectada das outras e a esfera da verdade objetiva, a da ciência, assumiu o controle sobre as outras esferas. 

A visão holística tenta superar essa fragmentação da sociedade moderna, não reinstitui uma nova doutrina da igreja ou dominação de outra esfera em vez da ciência, mas reconhece primeiro a autonomia de cada esfera e em segundo lugar que cada esfera está intimamente relacionada com as outras. A visão integral reunifica o verdadeiro, o bom e o belo num abraço não forçado e integral. Podemos aplicar essa concepção do universo a sistemas de crenças políticas, mapeados em uma matriz como a da esquerda. 
Em um eixo da matriz, podemos traçar um mapa do grau pelo qual uma ideologia política acredita que fatores internos ou externos nos moldam como pessoas físicas ou como sociedade. Por exemplo, os conservadores tendem a acreditar que as forças internas nos moldam; todos nós ouvimos o argumento de que são os valores e o estilo de vida do indivíduo que levam à pobreza. Os liberais, por outro lado, tendem a acreditar que são as forças externas que nos moldam, que a pobreza, por exemplo, é o resultado de forças políticas ou econômicas injustas. No segundo eixo, podemos traçar um mapa do grau em que uma ideologia enfatiza o papel do indivíduo em detrimento do coletivo. 

Para usar algumas ideologias extremas como exemplos, o fascismo tipicamente se concentra no coletivo e no interno, no sentido de que está preocupado com as motivações internas das pessoas, seus valores ou sua cultura, e com a ordem coletiva da sociedade. O Libertarianismo também vê os valores do indivíduo como a chave para o sucesso ou fracasso do indivíduo na vida, apenas porque eles estão principalmente preocupados com o indivíduo. 

Ideologias de esquerda, como o anarquismo, de um lado e socialismo de Estado por outro, são principalmente as forças causais externas, geralmente sob a forma de economia ou do governo. O anarquismo concentra a atenção no indivíduo, geralmente opondo-se a forças coletivas como o Estado, e o socialismo de estado se concentra no coletivo. Estes exemplos são retirados das formas extremas de ideologia política, mas este modelo também tem aplicação para formas mais leves, como "nova esquerda", "velha esquerda", "nova direita" e a "velha direita". Pode-se diagramar o resultado dessa análise como na figura a seguir. 

No entanto, a figura acima mostra apenas duas das quatro dimensões da política. A primeira dimensão é a extensão para a qual uma ideologia focaliza a atenção no indivíduo ou no coletivo. A segunda dimensão é a extensão para a qual uma ideologia concentra sua atenção na causalidade externa ou interna. A terceira dimensão da ideologia política é de importância crucial para a política integral: seu grau de inclusão e abrangência. 

Assim como cada Hólon existe em contextos cada vez mais profundos, o mesmo se aplica a argumentos políticos ou ideologias. Enquanto algumas ideias ou argumentos possam estar restritos à realidade física como seu contexto único, outros enfatizam verdades emocionais,  verdades tradicionais etnocêntricas ou até um nível de verdade superior universal. 

Em outras palavras, enquanto as ideologias fascistas invocam argumentos referentes às verdades etnocêntricas, as ideologias liberais invocam argumentos referentes às verdades racionais e universais. Esta distinção das verdades é hierárquica, indo do físico ao emocional, o racional, cada passo transcendendo, entretanto, abraçando seu antecessor, seguindo o caminho para um nível superior, até atingir a alma e o espírito. 

É possível ter uma política que se refira aos mais altos níveis de verdades espirituais e da alma. A Política Integral reconhece essa hierarquia aninhada de contextos de maior profundidade e amplitude. Finalmente, a quarta dimensão da política, de acordo com o ponto de vista integral, é o tipo e direção da transformação pretendida (tal como movimento ou tempo, no domínio da física, é por vezes considerado como a quarta dimensão). 

Algumas ideologias sustentam que a mudança social deve ocorrer de maneira revolucionária, outras de maneira reformista, e outras ainda argumentam que não deveria haver mudança. Wilber faz a distinção entre a “tradução”, o que corresponde a uma mudança no nível ou de qualquer dado contexto e “transformação”, o que corresponde a mudar para um novo nível / tipo de contexto superior. De um modo geral, isso corresponde à distinção entre reforma e revolução. 

Além disso, algumas ideologias também diferem em termos da direção da mudança que buscam; alguns argumentam que a mudança deve se mover para um nível mais alto, enquanto outras argumentam que precisamos retornar a um nível anterior. 

Por exemplo, alguns ecologistas radicais argumentam que a sociedade deve retornar a uma organização social baseada em tribos de caçadores-coletores, enquanto socialistas normalmente argumentam que a sociedade deve encontrar uma nova forma de organização que transcende a atual e que nunca existiu antes. 

A Política Integral sustenta que as quatro dimensões precisam ser levadas em conta ao se desenvolver análises políticas. A Política Integral, portanto, fornece uma "terceira posição", no sentido que transcende e integra os sistemas de crenças existentes em todas as dimensões. 

POLÍTICA INTEGRAL E ESPIRITUALIDADE 

A prática da Política Integral requer uma orientação espiritual, porque é uma visão que está além da racionalidade comum. 

Aqui, faço uma distinção entre religião e espiritualidade. Por religião eu entendo um conjunto específico de crenças e práticas orientadas para um reino além do comum; pela espiritualidade entendo uma abertura para o incomum, para o milagre da vida e da natureza, para o suprarracional. 

A Política Integral está relacionada à espiritualidade porque requer a intuição como prática, uma capacidade de ver as coisas holisticamente e uma abertura para os reinos além do meramente racional. 

A sensação de espiritualidade a que me refiro aqui é, portanto, muito semelhante à concepção de Michael Lerner de uma espiritualidade emancipatória. Pode-se tornar mais sintonizado com a Política Integral da mesma forma que se entra em sintonia com práticas espirituais diretas e contemplativas como a meditação. 

A Política Integral "não acrescenta" meramente espiritualidade à política. Em vez disso, encontra um lugar para a espiritualidade na política e um lugar para a política na espiritualidade. 

Historicamente, as religiões monoteístas ocidentais, como o cristianismo, o islamismo e o judaísmo, têm sido o que Nietzsche chamou de “apolíneas". Ou seja, elas tentaram empurrar a Grande Cadeia do Ser para Deus, para abraçar o Uno, em direção ao Espírito. Basicamente, elas moveram os humanos em uma direção de ascensão, subindo na cadeia do ser. O triste resultado, no entanto, muitas vezes tem sido uma rejeição ou dissociação do que surgiu antes, de níveis evolutivos anteriores, como a terra, o corpo, o sensual e o emocional. 

Para reverter esse processo, Nietzsche apoiou um tipo diferente de atitude que ele chamou de "dionisíaca", que iria colocar as pessoas em contato com seus desejos básicos e seus corpos. Ele apoiou um retrocesso na Cadeia do Ser, um renovado sentimento na diversidade, ao invés de um esforço para Aquele abraço. 

A política integral, reconhecendo a validade de todo o espectro da consciência, do corpo a emoção, à mente, até mesmo a alma e o espírito, não vê a ascensão e o descenso como uma opção de opostos, mas integra ambas. A pura ascensão leva facilmente a uma dissociação dos níveis (evolutivos) anteriores do Ser e o descenso puro também leva facilmente à regressão. Em vez disso, o que é necessário é uma ascensão aos níveis mais elevados do Ser que, simultaneamente e conscientemente, reintegra os níveis anteriores. 

Na esfera política, isso significa que, enquanto nós procuramos formas mais elevadas de organização social, provavelmente na forma de uma melhor organização político-econômica global, precisamos também reabraçar e reintegrar a comunidade, o indivíduo, e a terra. 

OS PRINCÍPIOS DA POLÍTICA INTEGRAL 

Com base no exposto, alguns dos princípios básicos para uma Política Integral poderiam ser delimitados. Nenhum deles pretende se tornar como regras rígidas, mas sim diretrizes mutuamente acordadas em relação ao que a Política Integral deveria tentar abranger. 

A visão integral 

A política integral é baseada em uma visão que é capaz de integrar os opostos e sustentá-los como não-duais. Aplicando esta proposta no mapa de quatro dimensões descrito acima, isto significa que é preciso perceber que a realidade política, como toda a realidade, envolve o indivíduo e os níveis coletivos, internos e externos; o início do desenvolvimento, como mais tarde, o abraçar dos muitos e o esforço em direção ao Um. Todos os esforços para criar uma maior unidade, quer a nível global ou regional, deve incluir simultaneamente uma reintegração do que era anteriormente, o que surgiu antes: o nacional, a comunidade, o indivíduo, e a terra. Ken Wilber batizou esta abordagem com a abreviação "TQTN" (todos os quadrantes, todos os níveis). 

Recentemente, as principais correntes políticas de terceira posição - como as propostas pelo sociólogo Anthony Giddens e o Conselho da Liderança Democrata de Gore / Clinton - sugeriram que percebemos que os direitos individuais devem ser acompanhados por uma responsabilidade para o coletivo. 

Mas isso é apenas uma maneira de integrar os dois. A chave é encontrar formas de organização social que preservem e promovam simultaneamente os direitos individuais e os ativos coletivos. Precisamos de uma sociedade em que, citando Marx, "o pleno desenvolvimento do indivíduo seja uma condição para o pleno desenvolvimento da sociedade". 

As políticas de esquerda tipicamente assumem que somos primariamente moldadas por circunstâncias externas, enquanto as políticas de direita assumem que somos moldados por fatores internos. A Política Integral reconhece e respeita o interior de cada indivíduo e da sociedade, bem como fatores externos que desempenham um papel enorme na vida das pessoas. 

Moralidade integral 

A visão "TQTN" acrescenta uma moralidade integral, o que Wilber chama de "Intuição Moral Básica". Ela tenta preservar e promover o desenvolvimento mais profundo para o maior número de seres. Na prática, não podemos mais reorganizar à vontade os interiores dos indivíduos ou empresas, a política integral levaria em conta o interior, mas principalmente através da criação de condições objetivas (externas), que permitiriam um máximo de desenvolvimento subjetivo (interno) para indivíduos e a sociedade. 

Tradução e transformação 

A perspectiva integral identifica quando o progresso deve ser quantitativo, isto é, dentro de qualquer nível de desenvolvimento, e quando deve ser qualitativo, de um nível para o outro. 

A transformação (a revolução), o movimento de um nível para o outro, só é aconselhável quando as opções de ação em qualquer nível tiverem sido esgotadas e a sociedade estiver pronta para passar para o próximo nível. Se as condições para a transformação não forem dadas, então mais tradução (reforma) será necessária dentro do nível atual. 

A Política Integral reconhece que tanto a reforma quanto a revolução são apropriadas, mas cada uma tem seu lugar e tempo, dependendo das circunstâncias e do estágio de desenvolvimento social. A Política Integral geralmente tenta mover a sociedade suavemente para o próximo nível, mas somente quando ela estiver pronta. 

As patologias do desenvolvimento 

A Política Integral tenta reconhecer quando uma determinada instituição ou conglomerado social se tornou patológica e está bloqueando um desenvolvimento futuro ou operando contra a intuição moral básica. 

Por exemplo, a pobreza pode atuar como um obstáculo ao desenvolvimento individual e social se essa pobreza impossibilitar o acesso de um indivíduo aos recursos necessários para o desenvolvimento (assistência médica adequada, educação, alimentação, abrigo, etc.). Além disso, quando um grupo ou indivíduo está oprimindo outro grupo ou indivíduo, isso torna impossível ou pelo menos dificulta o pleno desenvolvimento dos oprimidos. 

Mas assim como pode haver obstruções externas nas patologias do desenvolvimento, também pode haver obstruções internas. Por exemplo, uma cultura que nega a existência do desenvolvimento - que acredita representar a máxima sabedoria que uma sociedade pode oferecer - rejeitaria qualquer prática transformadora ou espiritual que tentasse levar a cultura a um novo nível de consciência. 

Naturalmente, aqui, a política educacional aparece fortemente, porque precisamos encontrar maneiras de ter certeza de que todos, mesmo os menos afortunados, tenham a oportunidade de desenvolver plenamente seu potencial. 

Uma Aplicação da Política Integral: Globalização 

A globalização é, talvez, simultaneamente, a questão mais complexa e mais importante do nosso tempo. Vale a pena, então, ver o que a Política Integral diria sobre o assunto. 

Uma característica importante de todo desenvolvimento é que cada movimento em direção a um novo nível representa uma maior inclusão. Ou seja, quando os átomos se combinam para formar moléculas, eles incluem as características dos átomos e adicionam as novas características ou propriedades das moléculas. Isso continua, para células e organismos multicelulares. O mesmo ocorre com o desenvolvimento subjetivo individual (o quadrante superior esquerdo), onde as sensações físicas são incorporadas às emoções, que são incorporadas no sentido de pertencimento ao grupo, que é incorporado na racionalidade. Os quadrantes coletivos são particularmente relevantes para o conceito de globalização, onde as unidades de desenvolvimento social se expandem de clãs, tribos, nações, continentes e finalmente o globo, cada nível mais envolvente que o nível anterior. 

No entanto, dentro de cada um dos quadrantes acima mencionados, existem várias linhas de desenvolvimento. Isso significa que a dinâmica da inclusão crescente se aplica não apenas aos quatro quadrantes, mas a todas as linhas de desenvolvimento social, sejam elas morais, econômicas, legais ou políticas. 

Em outras palavras, a globalização, no sentido de inclusão global, é uma consequência natural do desenvolvimento humano. A questão seria a que velocidade cada uma dessas linhas está se movendo em direção ao abraço global. 

No entanto, ao examinar o mundo de hoje, podemos ver que a atual manifestação da globalização não representa uma globalização ao longo de todas as possíveis dimensões ou linhas da experiência humana. 

Hoje, apenas alguns aspectos do desenvolvimento humano são globalizados, enquanto os outros são deixados de lado. Especificamente, os aspectos econômicos e alguns elementos das dimensões culturais tendem para o global, enquanto as dimensões moral e política permanecem principalmente presas no nível nacional (com a União Europeia potencialmente representando uma notável exceção). 

Em termos de política Integral pode-se classificar este desequilíbrio como uma forma de patologia, como uma dissociação entre as diferentes linhas de desenvolvimento no sentido de que o projeto econômico neoliberal nega qualquer validade para o desenvolvimento de uma organização política global. 

Além disso, a globalização econômica que vem ocorrendo levou a uma polarização econômica ainda maior entre os diferentes povos do mundo nos últimos trinta ou quarenta anos. 

Por exemplo, de acordo com dados do Banco Mundial, em 1960, a proporção de renda entre os 20% mais ricos do mundo e 20% do mundo mais pobre era de 30: 1. Hoje essa proporção é de 75: 1, sem sinais de desaceleração. 

Essa polarização econômica representa uma dissociação dentro da linha do desenvolvimento econômico, onde os grupos ricos se tornam mais ricos, enquanto os pobres se tornam mais pobres ou, pelo menos, economicamente estagnados. O problema dessas dissociações, tanto dentro da linha econômica quanto entre as linhas econômicas e políticas, é que elas apresentam sérios problemas a serem resolvidos em termos de justiça social e criam obstáculos para o desenvolvimento futuro. 

O aumento maciço da pobreza no mundo de hoje torna muito difícil, se não impossível, que os pobres atinjam todo o seu potencial. Assim, a dissociação entre globalização econômica e política significa que os processos econômicos são divorciados dos processos políticos, o que significa que poderosos atores econômicos podem fazer o que quiserem, enquanto os menos poderosos sofrem as consequências. 

PARA UMA NOVA LÓGICA SISTÊMICA: O NEO-KEYNESIANISMO GLOBAL 

Uma economia política Integral 

Se levarmos a sério os princípios da Política Integral, devemos nos empenhar em "preservar e promover o mais profundo desenvolvimento para o maior número de seres". Na prática, isso significa que precisamos encontrar maneiras de equilibrar o desenvolvimento econômico e político por meio de uma organização política globalizada, para que os processos econômicos futuros não levem a uma maior polarização econômica. 

Do ponto de vista histórico, esse desequilíbrio particular não é novidade, uma vez que a integração econômica progrediu com mais rapidez do que a integração política. A seguir, descrevo apenas uma evolução das relações da organização político-econômica que fornecem uma ideia sobre qual seria o próximo estágio de nossa organização político-econômica. 

Com o surgimento do capitalismo e a explicação do seu funcionamento fornecido por Adam Smith, pode-se dizer que houve uma fase em que a economia era esfera dominante e a organização nacional e política não iria intervir na economia. A organização política era, portanto, quase inexistente, pelo menos no que dizia respeito à economia (talvez com exceção da implementação de contratos). Essa foi a fase do liberalismo clássico, basicamente da economia nacional desregrada, que começou na Europa Ocidental por volta de 1800 e durou até a década de 1930. Esta fase terminou por causa de sua própria instabilidade, que foi exemplificada na Grande Depressão. 

A etapa seguinte foi o keynesianismo clássico, que, de acordo com os princípios enunciados por Maynard Keynes, deu um papel significativo a organização política nacional para guiar a economia nacional (junto com alguns controles internacionais limitadas). Essa fase durou até o início dos anos setenta, quando o keynesianismo entrou em colapso devido à sua instabilidade. Ele era incapaz de lidar com as contradições entre as demandas do setor comercial e da população em geral. O resultado prático foi a crescente dívida dos estados de bem-estar do Ocidente (e, eventualmente, uma crise da dívida para o Terceiro Mundo). Além disso, o aumento do comércio mundial começou a criar uma pressão crescente para trazer um novo sistema de gestão política e econômica, as empresas escolheram os melhores locais para os seus investimentos, foram estas tendências econômicas que regulamentaram interna ou externamente a organização da política. 

A década de setenta representa o começo de um regime global de neoliberalismo econômico que foi acompanhado pela persistência de políticas nacionais. Esta é basicamente a fase e o tipo de globalização que ainda vivenciamos. 

A próxima fase será, então, com toda a probabilidade, uma "atualização" da organização política para alcançar o mesmo nível global em que a economia já funciona. Em outras palavras, como neoliberalismo transnacional é insustentável por causa da crescente polarização e destruição ambiental que produz, esperamos que uma nova fase dentro de um curto espaço de tempo, o keynesianismo global, em que a organização política também será globalizada para ser capaz de regular a economia mundial. Um exemplo desse processo é o da União Europeia, que atualmente introduz uma organização política regional mais forte (em toda a Europa), precisamente para lidar melhor com seus problemas econômicos, sociais e ecológicos. 

Muitos proeminentes economistas já têm propostas para criar uma economia política global keynesiana, como é o caso do ex-gerente e economista do Banco Mundial, Joseph Stiglitz; Jeffrey Sachs, economista de desenvolvimento em Harvard; James Tobin, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, e o financista global George Soros. Suas propostas vão desde a introdução de um imposto global sobre a especulação da moeda em circulação (o imposto Tobin) até a criação de um banco central global para controlar o capital internacional. 

O principal objetivo destas propostas é geralmente desmantelar o atual regime conhecido como "mendigando ao próximo", pelo qual os países competem para oferecer as melhores oportunidades de investimento, desmantelando todas as restrições nacionais e os controles sobre os investimentos (tanto nas regras como relativas as próprias áreas de interesse relacionadas: ambiental, trabalhista e direitos humanos). Acima de tudo, esses controles neokeynesianos globais também poderiam contribuir para reverter a polarização econômica global. 

No entanto, não devemos ficar desapontados que o keynesianismo global seja um ponto ômega em nosso desenvolvimento político-econômico. Mais cedo ou mais tarde, ele também sofrerá as contradições internas que o keynesianismo nacional sofreu, e nós, como sociedade global, teremos que procurar uma nova lógica sistêmica. No entanto, até então, o keynesianismo global é a alternativa mais provável. 

PARA UMA NOVA LÓGICA CULTURAL 

Um elemento-chave da Política Integral é a atenção dada ao lado interno, subjetivo e cultural das coisas (o quadrante inferior esquerdo). 

Meu debate sobre a globalização concentrou-se em encontrar uma nova lógica sistêmica; quero dizer, eu me concentrei em discutir o lado externo, objetivo e social das coisas (o quadrante inferior direito). A Política Integral intui que as soluções que se concentram exclusivamente no exterior (o social - sistêmico) serão deficientes se não forem acompanhadas de um enfoque no interno (cultural). 

Em outras palavras, o keynesianismo global, como uma economia política integral, precisará de uma cultura integral para passar de uma mera tradução para uma transformação de nossa sociedade. Os governos e suas populações resistirão a implementar o keynesianismo global se não sentirem alguma solidariedade e compaixão por parte do mundo além de suas fronteiras nacionais. Mais do que nunca, os povos do mundo precisam estar dispostos a pensar em termos de humanidade, e não em termos de sua própria nação. 

Essa expansão da simpatia humana que deve cobrir o globo é, no entanto, apenas uma parte do que uma cultura integral significa. Outra parte insinua a capacidade e a vontade de integrar o objetivo e o subjetivo, o individual e o coletivo, a ascensão e o descenso. Em termos de globalização, integrar o individual e o coletivo significa que os benefícios que muitos recebem do comércio, cultura e interação globais não podem interferir na integridade de cada indivíduo no planeta. Por exemplo, isso significaria que precisamos proteger ativamente os direitos das culturas indígenas, das minorias e dos menos poderosos em geral. Ao mesmo tempo, os direitos individuais não podem ser divorciados de suas responsabilidades para com a sociedade e o meio ambiente. 

Integrar o objetivo e o subjetivo, em um contexto global, significa tomar consciência de que o movimento em direção a uma nova lógica sistêmica global deve ser acompanhado por uma nova lógica cultural. 

Finalmente, integrar subida (o que está emergindo) e descida (aquilo que já surgiu), significa que à medida que desenvolvemos uma nova consciência global e uma nova economia política global - em outras palavras, as novas e mais elevadas integrações - nós também devemos cuidar do que era antes, nossa comunidade e nossa ecologia natural. Um keynesianismo global precisa ser acompanhado por um retorno ao local (não a um tribalismo local, mas a um cosmopolita). Precisamos fazer isso porque somos humanos e temos escalas de referência humanas limitadas, como a comunidade local e o ambiente local. Essas escalas humanas tornam-se mais importantes precisamente porque o global também está se tornando mais importante. 

O local se torna mais importante na era da globalização, não só por causa de sua escala mais humana, mas também em nome da democracia e da justiça social. À medida que o poder sai do nível nacional e se torna global, ele também remove e abstrai mais a experiência e as preocupações individuais de todos os dias. Uma maneira de unir o indivíduo com poder e responsabilidade é restaurar o poder para as comunidades locais. Exemplos práticos de tais processos podem incluir uma maior autossuficiência local na esfera da produção (mais comércio local), a introdução de moedas locais (o que traz muitos benefícios econômicos e ecológicos), e uma maior autonomia na tomada de decisões, especialmente no que diz respeito à despesa das receitas do Estado. A expansão e o fortalecimento da democracia no nível local devem, é claro, ser acompanhados por uma democratização do poder em todos os níveis, do local ao global. 

Alguns podem dizer que defender a globalização como uma dinâmica necessária que deve ser promovida não pode ser combinada com uma chamada ao contexto local. Isso, no entanto, não é necessariamente verdade se honrarmos tanto o local quanto o global ao globalizar coisas como solidariedade, comunicação e produção de produtos que só ocorrem em áreas limitadas (por exemplo, frutas tropicais, medicamentos raros, tecnologia sofisticada, etc.) e localizar a produção de itens básicos (por exemplo, refeições, itens domésticos básicos, eletrônicos simples, etc.), nossa conexão com a terra e nossa conexão com nossa comunidade. Finalmente, Política Integral significa integrar oposições antes consideradas mutuamente exclusivas. 

Embora a Política Integral delineada aqui não constitua uma plataforma política concreta, é possível gerar políticas concretas baseadas nesses princípios. A Política Integral pode ajudar a levar a política para além das posições típicas de esquerda e direita e apresentar uma verdadeira "terceira posição", que leva a política a um novo nível e encontra soluções que não são apenas concessões, mas podem ser soluções que surgem de um entendimento superior, e não de uma unificação forçada de opostos. 

A Política Integral pode responder ao nosso desejo humano básico pelo espírito, reconhecendo a validade da espiritualidade e concedendo à espiritualidade um papel importante na formulação de uma política para o terceiro milênio. 

Sobre o Autor:

Gregory Wilpert é sociólogo e diretor do Centro Integral de Políticas do Integral Institute, fundado pelo pensador estadunidense Ken Wilber, em 1998. Cresceu na Alemanha e passou a maior parte de sua vida adulta nos EUA e, mais recentemente, na Venezuela. Estudou sociologia na University of California San Diego (Bacharelado em 1988) e na Brandeis University (Ph.D. em 1993). Sua dissertação tratou do desemprego e da consciência política na Alemanha Oriental, seguindo o exemplo alemão de unificação. Ele morou em Caracas, Venezuela, onde recebeu uma bolsa da Fulbright para ensinar e conduzir pesquisas (2000-2001) sobre uma teoria integral-crítica do desenvolvimento social. No momento, está escrevendo um livro intitulado The Developing Globe, que é um produto de sua pesquisa. Em seu tempo livre pratica a meditação Zen e o Aikido. Ele agradece a Wilber, Jack Crittenden e Thomas Jordan pelas críticas prestadas a este artigo.

Nota do Tradutor: O texto foi adaptado e revisado a partir da versão preliminar fornecida pelo Google Tradutor (translate.google.com.br).

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