Por Adyashanti
Todos nós, em nosso próprio processo de despertar, visitaremos a limitação de nossa vontade pessoal. A maioria de nós vai visitá-la várias vezes, em níveis cada vez mais profundos, até que esteja totalmente extinta.
A perda de vontade pessoal não é realmente uma perda total. Não é como se nos tornássemos o capacho da humanidade, que paramos de saber o que fazer ou como fazer. Muito pelo contrário. Ao renunciar à ilusão da vontade pessoal, todo um estado diferente de consciência nasce em nós; um renascimento acontece. É quase como se uma ressurreição acontecesse em nossas profundezas. Esta ressurreição é muito difícil de explicar, como muitas coisas na espiritualidade, mas em essência começamos a ser movidos pela totalidade da própria vida.
A representação desse tipo de movimento é muito vívida na tradição taoísta, que se concentra na expressão do Tao, ou a verdade através de nós. Se você ler o Tao Te Ching ou observar alguns dos ensinamentos taoístas, começará a sentir como a obstinação é substituída por uma sensação de fluxo.
Quando você sai do banco do motorista, descobre que a vida pode dirigir sozinha, que a vida sempre esteve dirigindo sozinha. Quando você sai do assento do motorista, ele pode dirigir muito mais facilmente e fluir de maneiras que você nunca tinha imaginado. A vida se torna quase mágica. A ilusão do "eu" não está mais no caminho. A vida começa a fluir e você nunca sabe aonde isso vai levar você.
À medida que seu senso de vontade pessoal diminui, as pessoas costumam dizer: "Eu nem sei mais como tomar uma decisão". Isso ocorre porque elas estão operando cada vez menos do ponto de vista pessoal. Há uma nova maneira de operar, e não é realmente sobre tomar uma decisão, certa ou errada. É mais como navegar em um fluxo onde você sente que os eventos estão se movendo; você sente a coisa certa a fazer. É como um rio que sabe para onde virar, uma rocha para a esquerda ou para a direita. É um senso de conhecimento intuitivo e inato.
Este tipo de fluxo está sempre disponível para nós, mas a maioria de nós está muito perdida nas complexidades do nosso pensamento para sentir que há um fluxo simples e natural para a vida. Mas, sob o tumulto do pensamento e da emoção, e sob o apego da vontade pessoal, existe de fato um fluxo. Há um simples movimento de vida.
(Adyashanti)
FONTE: O despertar autêntico: Como lidar com o fim do seu mundo - uma conversa direta e sem censura sobre a natureza da iluminação, Editora Merope, 2018.
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