Por Jon Kabat-Zinn
Para estarmos verdadeiramente em contato com o ponto em que já estamos, não importa qual seja, precisamos criar, em nossa experiência, uma lacuna que dure o tempo necessário para que o momento presente seja assimilado.
Para que possamos realmente sentir o momento presente, enxergá-lo em sua plenitude, mantê-lo na consciência e, portanto, passar a conhecê-lo e entendê-lo melhor. Só então seremos capazes de aceitar a verdade deste momento na vida, aprender com ele e seguir em frente.
No entanto, muitas vezes parece que estamos preocupados com o passado – com o que já aconteceu – ou com um futuro que ainda não chegou. Estamos em busca de outro lugar, onde esperamos que as coisas sejam melhores, mais felizes, mais do jeito que queremos que sejam ou como eram antigamente. Na maior parte do tempo só temos uma noção parcial dessa tensão interna – se é que temos alguma.
E assim corremos o risco de acabar trancados na ficção pessoal de que já sabemos quem somos, onde estamos e para onde vamos, de que sabemos o que está acontecendo, tudo isso enquanto nossa visão permanece nublada por pensamentos, fantasias e impulsos – em sua maioria sobre o passado e futuro, sobre o que queremos e gostamos e o que tememos e não gostamos – que se desdobram continuamente, encobrindo a direção que tomamos e o próprio chão em que pisamos.
Precisamos despertar desses sonhos e dos pesadelos em que eles costumam se transformar. O fato de nem sequer sabermos que estamos nesse sonho é o que os budistas chamam de “ignorância”, ou desatenção. Estarmos em contato com esse não saber é o que chamam de “atenção plena”.
Despertar desses sonhos é a tarefa da meditação, o cultivo sistemático da lucidez, da consciência do momento presente. Esse despertar anda de mãos dadas com o que chamaríamos de “sabedoria”, uma visão mais profunda do processo de causa e efeito e da interconectividade entre as coisas, de modo a não estarmos mais presos numa realidade determinada pelo sonho e criada por nós mesmos.
Para encontrar o caminho precisaremos prestar mais atenção neste momento. Este é o único instante que temos para viver, crescer, sentir e mudar. Teremos que estar mais conscientes e nos resguardar da atração incrível dos abismos do passado e do futuro, do mundo onírico que eles nos oferecem no lugar da nossa vida.
Trata-se simplesmente de ser você mesmo e saber alguma coisa sobre quem é essa pessoa. De perceber que você, querendo ou não, está num caminho: o caminho que é a sua vida.
A meditação pode nos ajudar a notar que esse caminho que chamamos de vida tem direção; que está sempre se desenrolando, a cada momento; e que o que acontece agora, neste momento, influencia o que acontece em seguida.
Se o que acontece agora influencia o que acontece em seguida, será que não faria sentido olhar de vez em quando para o que está à nossa volta de modo a estar mais em contato com o que acontece agora, de modo a nos orientar interna e externamente para perceber com clareza o caminho em que nos encontramos e em que direção ele vai?
Se fizermos isso, talvez estejamos numa posição melhor para mapear um rumo mais verdadeiro em relação ao nosso eu interior: um caminho da alma, um caminho com o coração, o nosso caminho, com C maiúsculo.
Senão o mero automatismo da inconsciência em relação a este momento transborda para o momento seguinte. Os dias, meses e anos rapidamente passam despercebidos, intocados, desvalorizados.
Ninguém pode fazer por nós essa tarefa de despertar, nos ajudar a enxergar com mais clareza ou nos arrancar da nossa cegueira. Despertar é algo que apenas nós podemos fazer por nós mesmos.
No fim das contas, aonde quer que você vá, é você que estará lá. É a sua vida que está se desenrolando.
(Jon Kabat-Zinn)
FONTE: Excerto da Introdução do livro "Aonde quer que você vá, é você que está lá", Sextante, 2020.
Para que possamos realmente sentir o momento presente, enxergá-lo em sua plenitude, mantê-lo na consciência e, portanto, passar a conhecê-lo e entendê-lo melhor. Só então seremos capazes de aceitar a verdade deste momento na vida, aprender com ele e seguir em frente.
No entanto, muitas vezes parece que estamos preocupados com o passado – com o que já aconteceu – ou com um futuro que ainda não chegou. Estamos em busca de outro lugar, onde esperamos que as coisas sejam melhores, mais felizes, mais do jeito que queremos que sejam ou como eram antigamente. Na maior parte do tempo só temos uma noção parcial dessa tensão interna – se é que temos alguma.
E assim corremos o risco de acabar trancados na ficção pessoal de que já sabemos quem somos, onde estamos e para onde vamos, de que sabemos o que está acontecendo, tudo isso enquanto nossa visão permanece nublada por pensamentos, fantasias e impulsos – em sua maioria sobre o passado e futuro, sobre o que queremos e gostamos e o que tememos e não gostamos – que se desdobram continuamente, encobrindo a direção que tomamos e o próprio chão em que pisamos.
Precisamos despertar desses sonhos e dos pesadelos em que eles costumam se transformar. O fato de nem sequer sabermos que estamos nesse sonho é o que os budistas chamam de “ignorância”, ou desatenção. Estarmos em contato com esse não saber é o que chamam de “atenção plena”.
Despertar desses sonhos é a tarefa da meditação, o cultivo sistemático da lucidez, da consciência do momento presente. Esse despertar anda de mãos dadas com o que chamaríamos de “sabedoria”, uma visão mais profunda do processo de causa e efeito e da interconectividade entre as coisas, de modo a não estarmos mais presos numa realidade determinada pelo sonho e criada por nós mesmos.
Para encontrar o caminho precisaremos prestar mais atenção neste momento. Este é o único instante que temos para viver, crescer, sentir e mudar. Teremos que estar mais conscientes e nos resguardar da atração incrível dos abismos do passado e do futuro, do mundo onírico que eles nos oferecem no lugar da nossa vida.
Trata-se simplesmente de ser você mesmo e saber alguma coisa sobre quem é essa pessoa. De perceber que você, querendo ou não, está num caminho: o caminho que é a sua vida.
A meditação pode nos ajudar a notar que esse caminho que chamamos de vida tem direção; que está sempre se desenrolando, a cada momento; e que o que acontece agora, neste momento, influencia o que acontece em seguida.
Se o que acontece agora influencia o que acontece em seguida, será que não faria sentido olhar de vez em quando para o que está à nossa volta de modo a estar mais em contato com o que acontece agora, de modo a nos orientar interna e externamente para perceber com clareza o caminho em que nos encontramos e em que direção ele vai?
Se fizermos isso, talvez estejamos numa posição melhor para mapear um rumo mais verdadeiro em relação ao nosso eu interior: um caminho da alma, um caminho com o coração, o nosso caminho, com C maiúsculo.
Senão o mero automatismo da inconsciência em relação a este momento transborda para o momento seguinte. Os dias, meses e anos rapidamente passam despercebidos, intocados, desvalorizados.
Ninguém pode fazer por nós essa tarefa de despertar, nos ajudar a enxergar com mais clareza ou nos arrancar da nossa cegueira. Despertar é algo que apenas nós podemos fazer por nós mesmos.
No fim das contas, aonde quer que você vá, é você que estará lá. É a sua vida que está se desenrolando.
(Jon Kabat-Zinn)
FONTE: Excerto da Introdução do livro "Aonde quer que você vá, é você que está lá", Sextante, 2020.
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