Por L.C. Dias
“Se não acreditamos na liberdade de expressão para as pessoas que desprezamos, não acreditamos nela para nada.”
Noam Chomsky
Concordo que existam extremismos na defesa do “politicamente correto”, pois seria totalmente incorreto obrigar alguém a ser “politicamente correto”. Correto?
Concordo com o casamento gay e discordo das cotas raciais. Correto? Independentemente da resposta “correta”, não deveríamos obrigar ninguém a concordar com a nossa posição, por mais correta que possa parecer aos nossos olhos.
O alerta já foi anunciado por Chomsky:
“Se não acreditamos na liberdade de expressão para as pessoas que desprezamos, não acreditamos nela para nada.”
Talvez o maior desafio dos nossos tempos seja suplantar uma cultura de niilismo e narcisismo, que fala sobre direitos humanos, mas minimiza as responsabilidades individuais.
Porém, acredito que todo o discurso que possa fomentar o ódio e a violência deva ser tratado como politicamente incorreto!
Talvez uma resposta plausível poderia ser encontrada no exemplo dado pela Alemanha. Transformou em crime o "discurso de ódio" na internet, ou seja, as mídias sociais serão severamente multadas caso permitam que seus usuários façam "discursos de ódio" em suas plataformas.
Seria uma medida preventiva do povo alemão motivada por ecos de um recente passado sombrio ou um ato deliberado de censura? Pois, quase sempre o ódio está a um passo da violência.
Neste sentido, deveríamos refletir melhor sobre os paradoxos da democracia expostos por Karl Popper:
“O chamado paradoxo da liberdade é o argumento de que a liberdade, no sentido da ausência de qualquer controle restritivo, deve levar à maior restrição, pois torna os violentos livres para escravizarem os fracos.”
Segundo este argumento, - Popper criticava o marxismo, mas também a versão ingênua do liberalismo - a liberdade irrestrita pode levar ao fim da liberdade; a tolerância irrestrita pode levar ao fim da tolerância.
É um argumento válido, mas capcioso, pois tem o poder de engendrar regimes democráticos mais genuínos, ao mesmo tempo que justificaria a cassação da liberdade por parte de regimes totalitários.
Entretanto, vale salientar que no decorrer do último século houve um uso arbitrário e dissimulado do termo “politicamente correto” por vertentes ideológicas tanto de esquerda quanto de direita. Alternavam o uso do termo de uma conotação positiva para logo a seguir assumir outra jocosa, sempre a indicar o óbvio: “as palavras são armas no discurso político”.
Por exemplo, o novo presidente do Brasil usou o termo durante toda a sua campanha. No discurso de posse, ocorrido no primeiro dia de 2019, voltou a afirmar que uma de suas metas seria “livrar o país do politicamente correto”.
Portanto, precisamos estar bem cientes de todas as implicações do termo e em qual contexto e abrangência está sendo empregado.
Da mesma forma, é importante manter a vigilância e preservar os valores recentemente conquistados, mesmo que parcialmente, pela humanidade:
“... o movimento maciço de direitos civis, o movimento ambiental mundial, a ascensão do feminismo pessoal e profissional, o crime de ódio, uma maior sensibilidade a todas as formas de opressão social de praticamente qualquer minoria e, centralmente, a compreensão do papel crucial do "contexto" em qualquer afirmação de conhecimento e o desejo de ser o mais "inclusivo" possível.” (Ken Wilber)
Mas a questão das minorias é somente uma das facetas do “politicamente correto”. Para uma maior compreensão do termo, recomendo a leitura do artigo publicado no Nexo Jornal:
L.C. Dias
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