Por Goethe Institut
“Por mais que se faça no plano macropolítico, por mais brilhantes que sejam as ideias e as estratégias, por mais corajosas que sejam as ações, por mais êxito que tenham, por menos autoritárias e corruptas que sejam, do ponto de vista micropolítico o que se consegue é uma reacomodação do mapa vigente, na melhor das hipóteses com um grau de desigualdade econômica e social um pouco menor. E tudo volta para o mesmo lugar, exatamente aquele do qual pretendíamos sair.”
Suely Rolnik
Importante estudo publicado, em 2016, pelo Goethe Institut no Brasil com uma avaliação que vai além do contexto político brasileiro e busca refletir sobre a ascensão da direita no mundo:
“A crise econômica favorece a ascensão de políticos de extrema direita, enquanto entre a esquerda há demanda de reflexão. Os populistas de direita irão se fortalecer ainda mais na União Europeia? Qual será o futuro político do Brasil? Um especial sobre esquerda e direita.”
O estudo "Esquerda e Direita" está dividido em quatro partes:
ENTREVISTA COM SUELY ROLNIK: A HORA DA MICROPOLÍTICA
GUINADA À DIREITA NA POLÍTICA: "O FIM DE UMA EUROPA UNIDA"
ORIENTANDO-SE PARA O CENTRO: A LIBERALIZAÇÃO DOS CONSERVADORES ALEMÃES
EFEITOS DA CRISE: BRASIL VIVENCIA MOMENTO "DIREITA VOLVER"
Destaco alguns trechos da entrevista concedida por Suely Rolnik, psicanalista e professora titular da PUC-SP:
“Tem-se aqui uma estratégia micropolítica, muito mais sutil e invisível do que a tradicional estratégia macropolítica, o que faz com que seja muito mais difícil decifrá-la e combatê-la. Minha impressão é a de que por não abarcar a dimensão micropolítica, o imaginário das esquerdas não tem como decifrar a estratégia de poder do capitalismo financiarizado e, sendo assim, não consegue combatê-lo. Pela mesma razão, o binômio esquerda X direita, ao qual está atrelado este imaginário, não abarca a complexidade das forças em jogo.”
“Por mais que se faça no plano macropolítico, por mais brilhantes que sejam as ideias e as estratégias, por mais corajosas que sejam as ações, por mais êxito que tenham, por menos autoritárias e corruptas que sejam, do ponto de vista micropolítico o que se consegue é uma reacomodação do mapa vigente, na melhor das hipóteses com um grau de desigualdade econômica e social um pouco menor. E tudo volta para o mesmo lugar, exatamente aquele do qual pretendíamos sair.”
“É nesta direção que se move um novo tipo de ativismo, que vem se propagando na sociedade brasileira e que se caracteriza precisamente pela invenção de múltiplas formas de ação micropolítica. Estas talvez já não caibam no imaginário das esquerdas, sobretudo em sua versão partidária e sindical, e menos ainda no binômio esquerda x direita.”
“A partir desta perspectiva, em lugar de dizer que sou de esquerda, ou melhor, a favor de um Estado mais justo e menos permeável ao neoliberalismo (que é o mínimo a que se pode aspirar), eu diria que me sinto parte de uma comunidade transnacional, informal, múltipla e variável, que compartilha um olhar micropolítico para detectar o intolerável e buscar formas de combatê-lo. O que orienta este olhar é uma bússola ética, cuja agulha aponta para tudo aquilo que impede a afirmação da vida, sua preservação e sua expansão. Essa mesma bússola é a que orienta tal comunidade flutuante em seus modos de agir. Estes consistem em atos de criação que vão redesenhando os contornos do presente, de maneira a dissolver os pontos em que a vida se encontra asfixiada; neste sentido, agir é muito distinto de reagir por oposição.”
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