Por L.C. Dias
“Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.“
Albert Schweitzer
“Nossa tarefa deveria ser nos libertarmos... aumentando o nosso círculo de compaixão para envolver todas as criaturas viventes, toda a natureza e sua beleza.”
Albert Einstein
“Para os espíritos pobres a natureza é cinza. Para os espíritos curiosos, o mundo inteiro arde e brilha com uma luz intensa.“
Ralph Waldo Emerson
Passados mais de 18 anos de sua publicação, a Carta da Terra continua sendo um documento valioso para aqueles que almejam um futuro mais promissor para o planeta e seus habitantes. Já no preâmbulo da Carta encontramos o seguinte alerta:
“Estamos num momento crítico da história da Terra, na qual a humanidade deve escolher o seu futuro… A escolha nossa é: ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e para cuidarmos uns dos outros ou arriscamos a nossa própria destruição e a da diversidade da vida”.
A Carta fala sobre justiça social e econômica, cultura da paz, conservação ambiental, respeito ao diálogo e à vida em todas as suas formas.
Infelizmente, desde a sua promulgação, pouco foi feito em prol da saúde de Gaia - como a Mãe-Terra era chamada pelos antigos gregos - ou sobre um consenso em relação a uma ética ambiental global. Ainda somos incapazes de ver a Terra como um gigantesco organismo inteligente provedor incondicional de vida.
Neste sentido, vamos buscar nas palavras de Leonardo Boff um maior esclarecimento sobre a visão ampliada da Terra como a Grande Mãe:
“Entretanto, a partir dos tardios anos 70 do século passado se tem imposto a constatação de que um planeta pequeno, velho e limitado como a Terra já não pode suportar um projeto ilimitado. Faz-se urgente outro modelo que tenha como eixo a Terra, a vida e o bem viver planetário no quadro de um espírito de colaboração, de responsabilidade coletiva e de cuidado.
Agora a preocupação central é: como viver e produzir em harmonia com a Terra, com os seres humanos, como o universo e com a Última Realidade, distribuindo equitativamente os benefícios entre todos e alimentando solidariedade para com as gerações presentes e futuras? Como viver mais com menos?
Foi neste contexto que se resgatou a visão da Terra como Mãe. Já não é mais a percepção dos antigos mas uma constatação empírica e científica. Foi mérito dos cientistas e sábios como Vladimir Vernadsky, James Lovelock, Lynn Margulis e José Lutzenberger nos anos 70 do século passado, ter demonstrado que a Terra é um superorganismo vivo que se auto regula. Ela articula permanentemente o físico, o químico e o biológico de forma tão sutil e equilibrada que, sob a luz do sol, propicia a produção e a manutenção de todas as formas de vida. Por milhões de anos o nível do oxigênio, essencial para a vida, se mantém em 21%, o nitrogênio, decisivo para o crescimento, em 79% e o nível de sal dos oceanos em 3,4%. E assim todos os elementos necessários para a vida. Não é que sobre a Terra haja vida. A Terra mesma é viva, chamada de Gaia, a deusa grega para significar a Terra viva.”
E finaliza o discurso com a seguinte admoestação:
“Mas cabe fazer uma advertência. Para sentir a Terra como Mãe não é suficiente a razão dominante que é funcional e instrumental. Necessitamos enriquecê-la com a razão sensível, emocional e cordial, pois aí se enraíza o sentimento profundo, se elaboram os valores, se cultivam o cuidado essencial, a compaixão e os sonhos que nos inspiram ações salvadoras. Nossa missão, no conjunto dos seres, é a de ser os guardiães e cuidadores desta sagrada herança que recebemos do universo: a Terra, nossa Mãe.
Tal como está, a Terra não pode continuar. É urgente que mudemos nossas mentes e nossos corações, nosso modo de produção e nosso padrão de consumo, caso quisermos ter um futuro de esperança. A solução para a Terra não cai do céu. Ela será o resultado de uma coalizão de forças em torno a uma consciência ecológica integral, uns valores éticos multiculturais, uns fins humanísticos e um novo sentido de ser. Só assim honraremos nossa Casa Comum, a Terra, nossa grande e generosa Mãe.”
(Trecho do discurso proferido por Leonardo Boff na 63º Assembleia Geral da ONU ocorrida em 22/04/2009)
No entanto, em virtude da nossa ignorância em relação a Grande Mãe, ainda continuamos agindo como um agressivo tumor maligno para a totalidade do corpo planetário. Como células cancerosas egoistamente orientadas, - ludibriadas pela enganosa ideologia do progresso ilimitado - crescemos de forma desenfreada às custas da devastação dos recursos naturais circundantes e sem a mínima preocupação com o bem estar das demais “células” planetárias que compartilham do mesmo ecossistema global.
Porém, pelas flagrantes evidências científicas disponibilizadas, além da nossa percepção direta das alterações climáticas em curso, seria impossível não reconhecer que Gaia está doente, febril e padece de uma enfermidade grave.
Então, como não questionar até quando Gaia irá suportar a devastadora e cruel ação humana de exploração e desprezo por todas as formas de vida? Até quando vamos ignorar que estamos engendrando o nosso próprio suicídio coletivo?
Entretanto, os mais atentos à crítica situação ambiental poderão notar que os mecanismos de defesa de Gaia já foram despertados de forma irreversível para reequilibrar o sistema e expurgar o parasita homo sapiens - uma espécie que representa, somente, 0.01% de toda a vida planetária.
Pois, uma coisa é certa, Gaia vive sem nós, mas nós não sobreviveremos à devastação da vida de Gaia. Após alguns milênios, - apenas um breve suspiro na longa biografia da mãe Terra - provavelmente o planeta estará plenamente restabelecida do dano causado pela nossa deletéria espécie, já nós, humanos, vamos constar na “memória” de Gaia apenas como um trágico experimento planetário, um breve pesadelo, um pequeno acidente evolutivo a ser esquecido.
Para conhecer um pouco mais sobre este indispensável documento de conscientização e ação planetária - um genuíno manual de sobrevivência - recomendo a leitura do material disponibilizado em:
Certamente, para nós humanos, não existe questão mais crítica a ser privilegiada neste momento!
L.C. Dias
Comentários
Postar um comentário