Por L.C. Dias
“Estou convencido de que a ciência está sendo restringida por pressuposições que se enrijeceram em dogmas, mantidos por fortes tabus. Essas crenças protegem a cidadela da ciência tradicional, mas agem como uma barreira ao pensamento aberto.”
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"Acredito totalmente na importância da ciência. Passei toda a minha vida como um cientista pesquisador, toda a minha carreira. Mas acho que ao ir além destes dogmas, ela pode ser regenerada. Se tornará interessante novamente, e espero, uma afirmação da vida.”
Rupert Sheldrake
Para a tradição budista delusão é quando olhamos para uma coisa e esquecemos todas as outras. Ou seja, exatamente porque vemos, somos cegos. Exatamente porque um objeto surge, ignoramos todos os outros. A delusão tem várias características: separatividade, teimosia, tempo e espaço, identidade, cegueira, etc.
No seu último livro, The Science Delusion (2012), Rupert Sheldrake - polêmico cientista britânico autor da conhecida hipótese da causação formativa - questiona as limitações inerentes a atual "visão de mundo" compartilhada pela grande maioria da comunidade científica.
Vejamos o que consta na Introdução do livro:
“Há mais de duzentos anos, os materialistas prometeram que a ciência explicaria tudo sob a ótica da física e da química. A ciência provaria que os organismos vivos são máquinas complexas, que a mente nada mais é do que atividade cerebral e que a natureza é desprovida de propósito. As pessoas apoiam-se na fé de que as descobertas científicas justificarão suas crenças.
Karl Popper, filósofo da ciência, chamava essa postura de “materialismo promissório”, pois depende de notas promissórias por descobertas que ainda não foram feitas. Apesar de todas as conquistas da ciência e da tecnologia, atualmente o materialismo está enfrentando uma crise de credibilidade que seria inimaginável no século XX.” (1)
Em 2013, na palestra homônima feita para o TED - que chocou os membros do comitê de ciências da instituição, que num primeiro momento decidiram banir a palestra dos seus arquivos - Sheldrake fez uma análise daquilo que considera os 10 dogmas mais controvertidos da ciência moderna:
“Em primeiro lugar: a natureza é mecânica ou maquinal, o universo é como uma máquina, animais e plantas são como máquinas, nós somos como máquinas. Na verdade, nós somos máquinas. Somos meros "robôs desajeitados", como na incisiva frase de Richard Dawkins, com cérebros que são computadores geneticamente programados.
Em segundo, a matéria é inconsciente, o universo todo é feito de matéria inconsciente. Não há consciência em estrelas, em galáxias, em planetas, em animais, em plantas, e nem deve haver em nós, se essa teoria for verdadeira. Portanto, muito da filosofia da mente nos últimos cem anos tem tentado provar que na verdade nós não somos conscientes coisa alguma. A matéria é portanto inconsciente, as leis da natureza são fixas.
Eis o terceiro dogma. As leis da natureza são as mesmas agora que eram no tempo do Big Bang e assim serão para sempre. Não apenas as leis mas as constantes da natureza são fixas, por isso são chamadas de constantes.
Quarto dogma: a quantidade total de matéria e energia é sempre a mesma. Ela nunca muda em quantidade total exceto no momento do Big Bang, quando tudo expandiu-se em existência a partir do nada dentro de um único instante.
O quinto dogma é que a natureza é despropositada, não há nenhum propósito em toda a natureza e o processo evolucionário não tem nenhum propósito ou direção.
Sexto dogma: a hereditariedade biológica é material, tudo o que você herda está em seus genes ou em modificações epigenéticas dos genes, ou na herança citoplasmática. É material.
Sétimo dogma: memórias são guardadas dentro do seu cérebro como traços materiais. De alguma maneira, tudo o que lembramos está no cérebro em intermináveis proteínas fosforiladas nas extremidades dos nervos. Ninguém sabe como isso funciona, mas ainda assim quase todos no mundo da ciência acreditam que ela deve estar no cérebro.
Oitavo dogma: a sua mente está dentro da sua cabeça.Toda a sua consciência é atividade do seu cérebro e nada mais.
Nono dogma, que decorre do oitavo: fenômenos psíquicos, como telepatia, são impossíveis. Seus pensamentos e intenções não podem surtir efeito algum à distância porque a sua mente está dentro da sua cabeça. Portanto, toda a evidência aparente de telepatia e outros fenômenos psíquicos é ilusória. As pessoas acreditam que essas coisas acontecem, mas é só porque não entendem tanto de estatística, são enganadas por coincidências ou iludem-se a si mesmas.
E o décimo dogma: a medicina mecanicista é a única que realmente funciona. É por isso que os governos só financiam pesquisas da medicina mecanicista e ignoram terapias alternativas e complementares. Estas não têm como funcionar mesmo, pois não são mecanicistas, podem parecer funcionar, porque as pessoas já melhorariam mesmo ou devido ao efeito placebo. Mas a única que realmente funciona é a medicina mecanicista.” (2)
E finaliza a palestra com as seguintes palavras:
“Se estes dogmas forem questionados, novas formas de pesquisa, novas possibilidades, se abrem. E acho que, à medida que questionamos estes dogmas, que têm impedido a ciência de avançar há tanto tempo, passaremos por um reflorescimento, uma Renascença. Acredito totalmente na importância da ciência. Passei toda a minha vida como um cientista pesquisador, toda a minha carreira. Mas acho que ao ir além destes dogmas, ela pode ser regenerada. Se tornará interessante novamente, e espero, uma afirmação da vida.” (3)
Como conclusão para este breve artigo, vale a pena ponderar sobre as questões levantadas no WokeDaddy.com em relação aos controvertidos banimentos infligidos pela TED nos últimos anos:
“Seja qual for a resposta certa, temos dois Ted Talks proibidos, e isso deve levantar questões. Embora tenha sido removido no canal do Ted no youtube, muitas pessoas reutilizaram os vídeos. Essa censura provocou uma grande controvérsia. Não há dúvidas de que existe uma vontade deliberada de manter paradigmas ultrapassados. Mas por qual razão? Para o comércio? Para controle? Eu vou deixar você formar sua própria opinião.” (4)
NOTAS:
(1) Ciência sem Dogmas, Rupert Sheldrake, Cultrix, 2016. Edição em língua portuguesa de “The Science Delusion”.
(3) Ibidem n.2
Leitura complementar:
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