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Além da Crença Cristã - Parte IV: O Cristo de Kardec, Oxalá, Rohden e Ubaldi

Por L.C. Dias

"Jesus Cristo é um dos prepostos do Criador, que recebeu a missão de conduzir o nosso planeta. Antes mesmo de a Terra existir, Ele já havia alcançado a perfeição e juntamente com uma plêiade de espíritos afins, organizou o nosso sistema, os planetas e tudo o que aqui está." 
Emmanuel

"Quem dá sustentação à sua verdade? Quem dá sustentação à sua fé? Quem é aquele que é o regente da verdade, da fé, da esperança, daquilo que acalenta os corações e traz paz pra você, para sua comunidade e para todos aqueles que buscam algo maior? É Oxalá." 
Alexandre Cumino

"Deus, na linguagem de Jesus significa uma emanação individual da Divindade universal. A confusão tradicional entre Deus e Divindade tem dado ensejo a intermináveis controvérsias entre os teólogos. Mas o texto do Evangelho é claro: O Cristo afirmou ser Deus, mas nunca afirmou ser ele a própria Divindade."
Huberto Rohden

"Desse modo Cristo é nosso irmão e mestre e como tal tem o direito de elevar-se como exemplo, porque fez aquilo que cada um de nós deverá fazer, obedecendo como Ele a Lei de Deus. (...) Ele enfrentou o inimigo e fez primeiro aquilo que todos deverão fazer e farão para cumprirem e resolverem o ciclo involutivo-evolutivo. Ele tem o direito de se colocar como exemplo e cabe-lhe a função de modelo, porque a sua paixão não se reduz a de poucas horas que nós nos limitamos a comemorar, mas se projeta nos milênios que cada um de nós deve viver. Ela se condensa num cálice bem mais amargo, o qual consiste em ter de sofrer todas as provas, fadigas e dores do AS, absorvidas hora por hora, até assimilar toda a lição." 
Pietro Ubaldi

Parte IV: O Cristo de Kardec, Oxalá, Rohden e Ubaldi

Para uma nação majoritariamente cristã, não é de estranhar que existam várias visões cristológicas alternativas, entretanto, a maioria delas foram semeadas em ambiente extra-pátrio, mas, posteriormente, maturadas e incorporadas à rica espiritualidade do povo brasileiro.

Neste sentido, para esta sucinta apresentação das cristologias alternativas mais difundidas em solo brasileiro, não poderíamos deixar de fazer uma menção especial a monumental obra do italiano Pietro Ubaldi, cuja a centralidade do Cristo deve ser evidenciada nos 40 anos de desenvolvimento de todo o seu sistema filosófico. 

Portanto, do material apresentado a seguir, talvez o único que possa realmente assumir o papel de uma verdadeira cristologia seja a consistente construção teórica elaborada pelo filósofo-místico da Úmbria. Para Pietro Ubaldi, seu último livro, "Cristo", é a culminância de sua grandiosa obra:

"O presente volume representa o termo conclusivo de uma Obra em 24 volumes perfazendo cerca de 10.000 páginas. Trata-se de um longo caminho, do qual este escrito constituí-se na fase de maturação hoje alcançada — a guisa de coroamento — através de todo aquele percurso. É o resultado de quarenta anos de trabalho, que vão de 1931 a 1971. Desenvolvem-se concomitantemente às transformações históricas deste período, do qual acompanhou o desenvolvimento que vai do velho conservadorismo estático ao nosso tempo de abertura. A Obra, antes que este chegasse, foi desde o seu início inspirada no espírito de renovação — hoje atual — sendo até — no começo - condenada por "erros" que não são mais, hoje, considerados como tais: e foi profética — a despeito de sua condenação — porque hoje se revela bem mais realizada de quanto não tivesse previsto. Podemos portanto acreditar que, resultando deste modo inserida no momento histórico atual, esta Obra tenha nascido em função do mesmo."

A seguir, um sucinto estudo sobre como se afigura o Cristo perante a multifacetada e eclética espiritualidade brasileira.

Kardecismo: Jesus não é Deus

O movimento espírita surgiu em meados do século XIX, fundamentado nas obras codificadas por Alan Kardec, pseudônimo utilizado pelo professor Rivail, renomado pedagogo francês. Apesar de semeado em solo francês, o Espiritismo elaborado por Kardec fincou raízes profundas, somente, em terras brasileiras. 

Sua proposta original, conforme os ensinamentos dos espíritos superiores, revelados mediunicamente e compilados de forma sistemática por Kardec, visava resgatar a mensagem original de Jesus e recuperar o verdadeiro sentido do Cristianismo, como vivenciado pelos cristãos primitivos. Seu principal lema: "Fora da caridade na há salvação", demonstra seu compromisso com a proposta original do Cristo. Para muitos espíritas, o Espiritismo seria o tão aguardado consolador prometido por Jesus. 

Na verdade, os espíritos responsáveis por transmitir a doutrina codificada por Kardec não estavam interessados em elaborar uma nova versão da teologia cristã, mas sim, revelar uma filosofia libertadora que pudesse confrontar os dogmas religiosas cristãs, impostos à cristandade por séculos, e oferecer uma resposta plausível para as grandes questões relacionadas com a condição humana. 

Portanto, não poderíamos falar de uma cristologia espírita propriamente dita, pois não existe tal formulação teórica no Espiritismo codificado por Kardec. 

Sobre Jesus, vejamos o que responderam os Espíritos, nos itens 625 e seguintes, no livro basilar da codificação kardecista:

"«Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo? 
- Vede Jesus. Comentários de Kardec: Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na Terra, o Espírito Divino o animava. Quanto aos que, pretendendo instruir o homem na lei de Deus, o têm transviado, ensinando-lhes falsos princípios, isso aconteceu por haverem deixado que os dominassem sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regulam as condições da vida da alma, com as que regem a vida do corpo. Muitos hão apresentado como leis divinas simples leis humanas estatuídas para servir às paixões e dominar os homens».

«Só por Jesus foram reveladas as leis divinas e naturais? Antes do seu aparecimento, o conhecimento dessas leis só por intuição os homens o tiveram? - Já não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Desde os séculos mais longínquos, todos os que meditaram sobre a sabedoria hão podido compreendê-las e ensiná-las. Pelos ensinos, mesmo incompletos, que espalharam, prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, possível foi ao homem conhecê-las, logo que as quis procurar. Por isso é que os preceitos que consagram foram,desde todos os tempos, proclamados pelos homens de bem; e também por isso é que elementos delas se encontram, se bem que incompletos ou adulterados pela ignorância, na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie.»

«Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão? Terão que nos ensinar mais alguma coisa? – Jesus empregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque falava de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade se torne inteligível para todo mundo. Muito necessário é que aquelas leis sejam explicadas e desenvolvidas, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. A nossa missão consiste em abrir os olhos e os ouvidos a todos, confundindo os orgulhosos e desmascarando os hipócritas: os que vestem a capa da virtude e da religião, a fim de ocultarem suas torpezas. O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.»

« Por que a verdade não foi sempre posta ao alcance de toda gente? - Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado. Jamais permitiu Deus que o homem recebesse comunicações tão completas e instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia, como sabeis, na antiguidade alguns indivíduos possuidores do que eles próprios consideravam uma ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que, aos seus olhos, eram tidos por profanos. Pelo que conheceis das leis que regem estes fenômenos, deveis compreender que esses indivíduos apenas recebiam algumas verdades esparsas, dentro de um conjunto equívoco e, na maioria dos casos, emblemático. Entretanto, para o estudioso, não há nenhum sistema antigo de filosofia, nenhuma tradição, nenhuma religião, que seja desprezível, pois em tudo há germens de grandes verdades que, se bem pareçam contraditórias entre si, dispersas que se acham em meio de acessórios sem fundamento, facilmente coordenáveis se vos apresentam, graças à explicação que o Espiritismo dá de uma imensidade de coisas que até agora se vos afiguraram sem razão alguma e cuja realidade está hoje irrecusavelmente demonstrada. Não desprezeis, portanto, os objetos de estudo que esses materiais oferecem. Ricos eles são de tais objetos e podem contribuir grandemente para vossa instrução.»”

Neste sentido, vale ressaltar que na doutrina dos espíritos não é evidenciada uma distinção entre Jesus e Cristo, como verificamos entre os gnósticos primitivos e os esoteristas modernos, muito pelo contrário, a perfeita humanidade manifestada por Jesus sobressai, notoriamente, sobre a suposta divindade do Cristo.

Outra conclusão que podemos chegar da citação feita acima é que o ensino dos espíritos tinha uma nítida proposta universalista, fugindo do cristocentrismo tão característico das seitas cristãs tradicionais. 

Mesmo assim, nos primórdios do movimento espírita, na França, vamos nos deparar com um cisma provocado por questões cristológicas. Estamos falando de Jean Baptiste Roustaing e sua obra “Os Quatro Evangelhos” ou “Revelação da Revelação”. Com esta obra renasce uma antiga controvérsia cristã sobre a real natureza do corpo de Jesus Cristo. Vejamos o posicionamento de Kardec sobre o assunto:

“Se tudo em Jesus fosse mesmo aparente e não real, todos os atos de sua vida, bem como a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus, pedindo clemência, sua paixão, sua agonia, tudo enfim, até o último brado, no momento de entregar o Espírito a Deus não teria passado de vão simulacro para enganar seus contemporâneos em relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, ou, melhor falando, uma verdadeira comédia indigna de um homem simplesmente honesto quanto mais de um ser tão superior como era Jesus. Agindo assim como um vil comediante, nosso Mestre, Jesus, numa palavra, teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e também da posteridade.

Portanto Jesus, como todos nós, teve um corpo carnal e um corpo fluídico e não somente um corpo fluídico.

Aliás, não é nova essa idéia sobre a natureza fluídica do corpo de Jesus. Já no quarto século, Apolinário, de Laodicéia, chefe da seita dos apolinaristas, defendia a tese de que Jesus não tinha tido um corpo como o nosso, de carne e osso, mas, sim, apenas um corpo fluídico, impassível , que descera do céu no seio da Santa Virgem e não nascera dela, pois fora concebido por obra e graça do Espírito Santo. Jesus, portanto, não nascera, não sofrera e não morrera senão em aparência.

Assim pensavam também os docetas, seita numerosa da corrente dos Gnósticos, que subsistiu durante os três primeiros séculos da Era Cristã." (A Gênese, cap. XV, ns. 66 e 67)

Porém, por mais inusitado que possa parecer, tal anacronismo cismático ainda persisti em alguns segmentos do movimento espírita brasileiro e, mais uma vez, somos obrigados a testemunhar, como no cristianismo nascente, uma caça aos hereges e a busca fanática por uma idealizada pureza doutrinária, que jamais foi proclamada ou defendida pela falange de espíritos comandada pelo "Espírito de Verdade". Infelizmente, neste ponto, alguns espíritas parecem esquecer do alerta do apóstolo dos gentios sobre o perigo de se apegar a letra que mata ao invés de buscar o espírito que vivifica. 

O próprio Chico Xavier também sofreu agudas críticas em virtude do seu livro "A Caminho da Luz", onde o espírito Emmanuel declara:

"Jesus Cristo é um dos prepostos do Criador, que recebeu a missão de conduzir o nosso planeta. Antes mesmo de a Terra existir, Ele já havia alcançado a perfeição e juntamente com uma plêiade de espíritos afins, organizou o nosso sistema, os planetas e tudo o que aqui está."

Outro herege perante a pretensa ortodoxia kardecista foi o médium paranaense Hercílio Maes, que psicografou vários livros do espírito Ramatis. Na obra "O Sublime Peregrino", encontramos vasto material alternativo sobre a vida e ministério de Jesus, mas vamos nos deter nas seguintes considerações feitas por Ramatis sobre Jesus:

"Em verdade, Jesus é o Espírito mais excelso e genial da Terra, da qual é o seu Governador Espiritual. Foi também o mais sublime, heroico e inconfundível Instrutor entre todos os mensageiros espirituais da vossa humanidade. A sua encarnação messiânica e a sua paixão sacrificial tiveram como objetivo acelerar, tanto quanto possível, o ritmo da evolução espiritual dos terrícolas, a fim de proporcionar a redenção do maior número possível de almas, durante a 'separação do joio e do trigo, dos lobos e das ovelhas', no profético Juízo Final já em consecução no século atual.

Jesus nunca afirmou que era o próprio Deus manifesto na segunda pessoa da Santíssima Trindade, nem se pronunciou diferente da natureza dos demais homens. Mas deixou bem claro a sua condição de irmão de todos os homens e filhos do mesmo Deus, quando por diversas vezes assim se dirigiu aos seus discípulos: "Eu vou a meu Pai e a vosso Pai, a meu Deus e a vosso Deus". Fica evidente, nesse conceito, que ele se referia a Deus como o Pai de todos os homens; e a todos os homens como filhos desse mesmo Deus.

Jesus também foi imaturo de espírito e fez o mesmo curso espiritual evolutivo através de mundos planetários, já desintegrados no Cosmo. Isso foi há muito tempo, mas decorreu sob o mesmo processo semelhante ao aperfeiçoamento dos demais homens."

Vejamos agora os ensinamentos de Ramatis sobre o Cristo:

"Portanto, já é tempo de vos afirmar que o Cristo Planetário é uma entidade arcangélica, enquanto Jesus de Nazaré, espírito sublime e angélico, foi o seu médium mais perfeito na Terra! (...) Jesus, como dissemos, não é o Cristo, mas a consciência angélica mais capacitada para recepcionar e cumprir a sua vontade em cada plano descendente do reino angélico até a Terra. Em sua missão sublime, Jesus foi a "janela viva" aberta para o mundo material, recebendo do Cristo as sugestões e inspirações elevadas para atender à salvação das almas, em educação na crosta terráquea.

Conforme já temos dito, cada orbe tem o seu Logos ou Cristo planetário, seja a Terra, Marte, Júpiter, Saturno ou Vênus. De acordo com a graduação espiritual de suas humanidades, também há maior ou menor absorvência da aura do seu Cristo, o que, às vezes, é assinalado com acerto pelos astrólogos, no estudo de suas cartas zodiacais coletivas. Quanto mais evolvida é a humanidade de um orbe, ela também é mais sensível ou receptível à vibração espiritual do seu Arcanjo planetário; sente mais intimamente a sua influência benfeitora e pende para as realizações superiores."

Nesta questão cristológica fundamental, Ramatis se distancia das concepções kardecistas consensualizadas dentro do movimento espírita e se aproxima da visão esotérica da tradição interna do cristianismo. 

Além disso, Ramatis traz uma importante reflexão sobre o verdadeiro objetivo a ser alcançado com os estudos cristológicos: 

"No entanto, estas discussões sobre as características ou minúcias dos acontecimentos ocorridos quanto ao nascimento de Jesus constituem perda de tempo, pois o aspecto mais importante é a sua vida de abnegação e sacrifício ilimitados, no sentido de "salvar" a humanidade! Belém ou Nazaré, o lar ou a manjedoura, corpo físico ou fluídico, milagres ou trivialidades são circunstâncias incapazes de influir sobre o conteúdo do seu Evangelho, o mais avançado Código de Leis de aperfeiçoamento espiritual. Jesus sempre viveu em si mesmo os ensinamentos e conceitos salvadores ensinados ao homem terreno; obviamente, é muito mais valiosa e importante a sua doutrina e não os aspectos humanos do ambiente onde ele nasceu e viveu! A consumação do seu holocausto na cruz foi o coroamento messiânico e a confirmação inconfundível de toda sua doutrina recomendada à humanidade e sem derrogar as leis do mundo material, pois os seus próprios "milagres" nada tinham de sobrenaturais, mas podiam ser facilmente explicáveis pelas leis da física transcendental com relação aos fenômenos mediúnicos hoje conhecidos."

Portanto, a exceção de Ramatis, poderíamos concluir que no âmbito do movimento espírita brasileiro constatamos uma relevância de Jesus sobre Cristo. Na realidade, não se faz uma distinção clara entre as duas supostas "personalidades", atribuindo-se a Jesus Cristo uma única identidade:

"Algumas religiões acusam o espiritismo de diminuir a figura de Jesus, o que não é verdade. A Doutrina Espírita procura resgatar o cristianismo redivivo que se perdeu com o passar dos tempos e por isso rejeita o dogma da divindade de Jesus, tal qual o próprio Cristo o fez, como exemplificamos no tópico anterior. A Doutrina dos Espíritos nos explica que Jesus é um espírito criado por Deus, simples e ignorante, como todos nós, mas que já percorreu todo o caminho evolutivo e que por isso é um espírito perfeito." (1)

L.C. Dias

Notas:


Umbanda: Jesus, filho de Oxalá

Por Júlia Pereira 

Oxalá é Jesus? 

À essa pergunta escutamos um belo e sonoro NÃO!

Para Jesus irão se criar diversas leituras da sua presença, por exemplo, para o católico ele está como a segunda pessoa da trindade, que seriam as três presenças de Deus manifestados. Pai que corresponde ao Criador, Jesus (que também é Deus) o filho encarnado e o Espírito Santo que é a manifestação (como o nome mesmo já diz) do Espírito de Deus em seus filhos.

E assim Jesus pode ser o Messias para algumas crenças, o Mestre para outras e o Profeta em outras tantas. Na maioria das casas de Umbanda Jesus é entendido como Oxalá e isso acontece em razão das semelhanças entre as qualidades e simbolismos que acabam por aproximar essas duas presenças dentro dessas crenças.

Por exemplo Jesus é a expressão máxima da fé em Deus e Oxalá além de ser o Orixá que ativa a fé dos seres é considerado o primeiro dos Orixás, sendo que na maioria dos Congás ocupa a posição mais alta desse espaço.

No entanto, Oxalá é uma divindade de origem nagô-iorubá e nessa cultura é ele o Rei de Ifé e o responsável pela criação do mundo. Quando trazemos ele para o contexto das religiões nascidas em solo brasileiro ele irá ser entendido de outras formas (assim como falamos sobre Jesus) e até mesmo dentro da Umbanda ele pode ter compreensões diversas por entre as vertentes disseminadas.

Contudo, Oxalá é Orixá e na Umbanda Orixá é uma qualidade ou fragmento de Deus e como tal não pode ser Jesus, pode sim – como dito – ter particularidades em comum, mas o culto à Oxalá se percebe na Umbanda enquanto divindade de Deus.

Já à Jesus se estabelece na Umbanda a relação de mestre maior, aquele que encarnou para trazer a boa nova e para promover revoluções na concepção de mundo vivida naquele momento.

A fé que eu tenho no meu Orixá

Quanto a outras crenças que cultuam Oxalá teremos a leitura do Candomblé, que também se difere da Umbanda e como bem explica Pai Alexandre Cumino no estudo em Orixás na Umbanda, acontece porque Pai Oxalá não se limita as crenças estabelecidas e é maior que as religiões e suas doutrinas, sendo interpretado de maneiras diferentes por entre elas.

Jesus nessa perspectiva pode ser um filho de Oxalá, um chefe de falange, um mestre ascensionado, um avatar, um espírito em alto grau hierárquico que encarnou já com algum tipo de missão designada, mas ele não se configura como a divindade ou o sentido e o mistério de Deus que rege a fé das pessoas como um Orixá. É comum que as religiões humanizem suas divindades atribuindo aspectos vividos por nós nessa realidade à elas.

Jesus Cristo é a humanização histórica mais conhecida por entre as religiões do mistério de Deus, tido a nós como Oxalá e que emana de si a busca pelo encontro com o Sagrado.

As histórias sobre a passagem de Jesus em terra referem-se exatamente a isso, ao jovem Mestre que conduzia seus discípulos a se transcender em si, reavivando neles a fé em si, em Deus e na manifestação do Pai e cada um de nós.

Esse mistério é tão grande que não se conceitua apenas como a fé nas crenças ou nas religiões, mas a fé na sua verdade, na sua realidade e isso é exemplificado até na função de Oxalá na criação.

Nos mitos, Oxalá é descrito como o primeiro dos Orixás, é ele quem cria a realidade do nosso planeta para que depois os outros Orixás possam gerar, ordenar, renovar…

"Quem dá sustentação à sua verdade? Quem dá sustentação à sua fé? Quem é aquele que é o regente da verdade, da fé, da esperança, daquilo que acalenta os corações e traz paz pra você, para sua comunidade e para todos aqueles que buscam algo maior? É Oxalá." 
(Alexandre Cumino, em Orixás na Umbanda)


Huberto Rohden: Cristo, avatar universal

Que é o Cristo? 

A pergunta que serve de título a este livro foi feita, há quase 2000 anos, por Jesus aos chefes da Sinagoga de Israel. E eles responderam que o Cristo era filho de David, isto é, um descendente do rei de Israel, pai de Salomão.

Jesus não aceita a resposta, porque, de fato, o Cristo não é filho de David.

Esta confusão entre Cristo e Jesus é, pois, antiquíssima, e continua até hoje.

Que é o Cristo, o Ungido, que os antigos hebreus chamavam Messias, o Enviado?

O quarto Evangelho designa o Cristo com a palavra Logos, começando o texto com estas palavras:

“No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus”.

A palavra grega Logos é muito anterior à Era Cristã. Os filósofos antigos de Alexandria e de Atenas, sobretudo, Heráclito de Éfeso, designavam com Logos o espírito de Deus, manifestado no Universo. Logos seria, pois, o Deus imanente, em oposição à Divindade transcendente, que não é objeto de nosso conhecimento.

A Vulgata Latina traduz Logos por Verbo: “No princípio era o Verbo...”.

Logos, Verbo, Cristo são idênticos e designam a atuação da Divindade Creadora, a manifestação individual da Divindade universal.

Neste sentido, o Cristo é Deus, mas, não é a Divindade. E neste sentido diz ele aos HOMENS: “Vós sois deuses”; os homens são manifestações individuais da Divindade Universal. A primeira e mais perfeita das manifestações da Divindade Universal, no Universo, é o Cristo, o Verbo, o Logos, que Paulo de Tarso chama acertadamente “o primogênito de todas as creaturas” do Universo.

O Cristo é anterior à creação do mundo material. Ele é, “o Primogênito de todas as creaturas”. O Cristo não é creatura humana, mas a mais antiga individualidade cósmica, que, antes do princípio do mundo, emanou da Divindade Universal.

O Cristo é Deus, mas não é a Divindade, que Jesus designa com o nome Pai: “Eu e o pai somos um, mas o Pai é maior do que eu”.

Deus, na linguagem de Jesus significa uma emanação individual da Divindade universal.

A confusão tradicional entre Deus e Divindade tem dado ensejo a intermináveis controvérsias entre os teólogos. Mas o texto do Evangelho é claro: O Cristo afirmou ser Deus, mas nunca afirmou ser ele a própria Divindade.

O Gênesis de Moisés principia com as palavras: “No princípio crearam os Elohim o céu e a terra”.

O quarto Evangelho, de João, abre com palavras semelhantes: “No princípio era o Logos... por ele foram feitas todas as coisas”.

Parece, pois, que as Potências Creadoras (em hebraico Elohim) são idênticas ao Logos, pelo qual foram creadas todas as coisas.

Elohim, Logos, Verbo, Cristo – são nomes vários que designam a creatura cósmica que, antes do mundo material, emanou da Divindade transcendental.

A filosofia oriental chama a Divindade universal Brahman, e dá o nome de Brahma à mais antiga individuação da Divindade.

Brahma seria igual a Deus, Cristo, Logos, Verbo.

Não existe em todo o Universo uma única creatura definitivamente realizada e incapaz de se realizar ulteriormente. Toda e qualquer creatura, mesmo Brahma, ou Cristo, são creaturas altamente realizadas, mas sempre realizáveis; são, por assim dizer, sinfonias inacabadas. Toda e qualquer creatura, mesmo a mais perfeita creatura cósmica, é ulteriormente evolvível ou realizável. A vida eterna não é uma chegada, uma parada, uma meta final – é uma incessante jornada ou evolução rumo ao Infinito, sem jamais coincidir com o Infinito. Todo o finito, diz a matemática, em demanda do Infinito, está sempre a uma distância infinita.

Panta rhei, tudo flui, diziam os filósofos antigos; tudo é relativo, escreve Einstein em nosso século.

A Divindade, o Infinito, o Absoluto, não é objeto de nosso conhecimento. Tudo que sabemos se refere ao Relativo, ao Fluídico, ao Evolvível, que está em incessante evolução.

Referem os livros sacros que Cristo, a mais antiga creatura cósmica, se encarnou na pessoa humana de Jesus.

Sendo que esta descida do Cristo cósmico às baixadas do planeta terra, é um fenômeno incompreensível, têm os homens feito inúmeras conjeturas sobre o porquê dessa encarnação do Cristo. E ele mesmo, na pessoa de Jesus, nunca disse claramente da finalidade da sua homificação.

Entretanto, sendo o Cristo o maior dos avatares do Universo conhecido, podemos interpretar a encarnação dele pelas normas dos outros avatares, de que passaremos a ocupar-nos num dos capítulos deste livro.

A ANTIDROMIA PARADOXAL DOS AVATARES

A palavra sânscrita avatar quer dizer “descido”, e designa uma entidade de elevada evolução que resolveu descer da sua altura às baixadas de regiões inferiores.

Esta descida voluntária do avatar faz parte do drama da sua evolução ascensional.

Esta contra-corrida, ou antidromia, representa um elo na longa cadeia da sua auto-realização, como diríamos em termos modernos.

Quando um avatar atinge grande nível de evolução e libertação, tem ele o desejo de descer externamente às baixadas a fim de realizar a subida a maiores alturas, na escala da sua incessante auto-realização.

Todos os avatares sabem, pela voz da sua consciência, que não há evolução sem resistência, sem luta, sem sofrimento. E, como nas regiões superiores do espírito não há suficiente resistência e sofrimento, resolve o avatar descer a regiões inferiores da matéria em busca da necessária resistência.

Esta antidromia parece ao inexperiente uma espécie de masoquismo. Mas para o avatar o sofrimento não é um fim, mas sim um meio para um fim mais sublime. 

O avatar procura resistência e sofrimento a fim de prosseguir na linha ascensional da sua evolução indefinida.

Este desejo de ulterior evolução parece egoísmo aos ignorantes, mas é o imperativo duma realização superior para o avatar, que já superou todos os estágios do egoísmo ilusório e trata exclusivamente da sua auto-realização, que é a lei de todo o Universo. As leis cósmicas não conhecem estagnação, nem involução; mas incessante evolução.

Auto-realização é santidade, é auto-afirmação, é amor divino na creatura evolvível.

Quanto mais liberto se sente o avatar tanto mais desejo tem ele de se escravizar voluntariamente por amor.

Por amor de que?

Muitos pensam que o amor do avatar vise os seres inferiores no meio dos quais ele encarna. Mas a verdade é que o amor do avatar visa sobretudo o próprio avatar e sua evolução superior. 

Como já dissemos, não há nenhum resquício de egoísmo nesse auto-amor, que é supremo imperativo cósmico e divino: sede perfeitos, como perfeito é vosso pai.

Entretanto, apesar de o amor do avatar ser um auto-amor, indiretamente é ele também um alo-amor, porque redunda em benefício dos seres inferiores que lhe causam resistência e sofrimento. 

Segundo leis eternas, toda a plenitude transborda infalivelmente. Quanto mais o avatar se auto-plenifica, tanto mais a sua plenitude transborda em beneficio de outros seres.

“Da sua plenitude todos nós recebemos, graça e mais graça,” diz o texto sacro com referência ao maior dos avatares.

Esses seres superiores que realizam a sua própria plenitude são os benfeitores ignotos de outros seres. Não é possível ser realmente bom sem fazer bem a outros seres devidamente receptivos.

É esta a maravilhosa simbiose do Universo.

Fonte: Que Vos Parece do Cristo?, Huberto Rohden, Editora Martin Claret.

Pietro Ubaldi: A Essência de Cristo

No prefácio do seu último livro "Cristo", que representa o coroamento da sua monumental obra, Pietro Ubaldi faz a seguinte declaração:

"Atinge-se assim uma interpretação do Cristo não só reservada a quem crê mas também a quem pensa: um Cristo para adultos visto não só pela fé mas também com a lógica e a razão, bem mais convincentes porque mais adequadas à mentalidade positiva do homem moderno; um Cristo que também o ateu pode levar em consideração, porque lhe é proposto sem esquecer os termos da sua forma mental. Tal universalidade de resultados conduz à unificação, o que é um progresso.

Assim este livro é uma tentativa para canalizar a revolução interior que já está em ato secundando-a, mas em forma de continuação do passado, de sua complementação e enriquecimento, no caminho da evolução. Apresentamos assim um Cristo logicamente implantado na estrutura físico-espiritual de nosso universo, de maneira que o homem novo possa continuar a utilizar, de forma mais adequada aos novos tempos, a ideia salvadora por Ele oferecida.

É assim que deixamos de lado o aspecto humano do Cristo, para vê-lo sobretudo em seu aspecto cósmico e divino, como representante do Pai, vindo para fazer-nos conhecer a sua Lei, para ensinar-nos e ajudar-nos a subir a Deus, levando-nos consigo do Anti-Sistema ao Sistema." 

Manuel Emygdio da Silva fez uma pergunta a Pietro Ubaldi, sete anos antes do livro ser escrito: "Para entender o Cristo, estaremos em face de uma corrente crística ou de um espírito individual que encarnou em Jesus para nos ensinar o caminho?" O sábio autor do livro "Cristo" respondeu: "Para entender quem era o Cristo, é preciso entender Deus, a Criação, o Sistema e o Anti-Sistema, e todo o nosso sistema filosófico sobre a natureza e estrutura do Universo. Então poderíamos colocar o Cristo no ponto devido dentro desse quadro". 

Portanto, não tenho a pretensão de adentrar no complexo universo cristológico ubaldiano. Apenas sugerir a existência de alguns elementos gnóstico-maniqueístas que fundamentam a obra de Ubaldi que, talvez, necessitem de um maior aprofundamento para a sua devida compreensão. 

A seguir, com intuito de viabilizar uma incursão preliminar no vasto pensamento cristológico de Ubaldi, disponibilizo um excelente artigo sobre o tema.

A Essência de Cristo

Por Adeildo Paulo da Silva 

No livro Cristo, Capítulo V, "O Choque entre Sistema e Anti-Sistema", fica evidenciado que Cristo era uma pessoa do Anti-Sistema e que a Paixão representa um último assalto do Anti-Sistema contra um elemento que lhe foge para ingressar no SISTEMA. 

Para melhor clareza do que afirmamos, seguem alguns tópicos entre as páginas 59/63: 

"Postos, então, de lado os sujeitos humanos que contribuíram - quais pobres inconscientes -para o desenrolar-se de forças por eles desconhecidas da paixão de Cristo, não resta como causa de tudo senão a vontade do Pai, da qual Cristo havia feito Sua própria vontade. O Pai não O obriga de modo nenhum, mas é Cristo que tem consciência da necessidade de obedecer-Lhe. É o próprio Cristo que perante a ordem estabelecida pela Lei, reconhece a absoluta necessidade de Seu sacrifício e o cumpre com conhecimento de causa. Assim: de um lado, permanece firme um princípio de ordem, do outro emerge a necessidade de um sacrifício. Havia, pois, uma conta entre os dois, e Cristo devia pagá-la à justiça do Pai. Era, então, esta que exigia tal pagamento e cumpria ao Cristo efetuá-lo, cônscio de Seu dever?" 

"Qual era então a dívida que Cristo devia pagar à Lei? Diz-se que sejam os pecados dos homens que Cristo endossava, deixando só a eles a tarefa de cometê-los. Mas se o pagamento de Cristo era efetuado para cumprir um ato de justiça perante a Lei, como é possível que o mesmo redundasse num ato de injustiça qual o de pagar, com seu próprio sofrimento, as culpas dos outros? Assim sendo, o Pai por aquele Seu princípio de justiça deveria ter exigido o pagamento por parte dos homens, porque as culpas eram deles e não de Cristo." 

"A paixão de Cristo é, então, devida a um último assalto do AS contra um elemento que lhe foge para reingressar no S, ao mesmo tempo em que constitui a libertação deste ser em relação ao AS, assim como o seu triunfo no S. É esta a razão da estraciante crucificação, assim como da glória da ressurreição. A primeira representa o método próprio do AS que se acirra contra o homem que está para retornar purificado ao seio de Deus. Mas a zona de domínio do AS está delimitada e logo que Cristo lhe ultrapasse os confins, aquele AS perde todo o poder sobre Ele. Neste momento Cristo volta a ser cidadão do S, como ser de um Universo de outro tipo." 

"Eis que a paixão de Cristo nos mostra o maior fenômeno da existência que tenha sido experimentalmente vivido: o da superação evolutiva do AS e da evasão do mesmo para reingressar, vitorioso, no S. O fenômeno é bilateral, pois interessa simultaneamente ao AS e ao S, enquanto se realiza, ao negativo no primeiro e ao positivo no segundo. Cristo alcançava uma posição de avançadíssimo nível biológico, que nós todos deveremos atingir. Assim ele nos pôde mostrar a técnica de realização da passagem dos mais altos planos do AS para o S. Eis qual é o significado da paixão de Cristo: o do retorno do ser a Deus, depois de ter percorrido todo o ciclo involução-evolução." 

"Então Cristo é um elemento de nosso tipo AS, mas tão avançado no caminho que todos percorremos, a ponto de superar o nosso mundo e poder assim reingressar no S. Com isso Ele nos mostra aquilo que todos nós, cedo ou mais tarde, deveremos fazer. Daí o valor do seu exemplo, por ser o de um indivíduo situado nas nossas mesmas condições, que todavia realiza uma passagem normal em posição de perfeito enquadramento dentro da ordem da Lei. Isto não é mito, e sim realidade. Daí o seu valor positivo. Provavelmente Cristo tenha feito parte de uma humanidade tão evoluída a ponto de estar próximo do S, e dela descera à nossa humanidade involuída para sujeitar-se a uma prova purificadora muito mais feroz de quanto não comportasse Sua demasiadamente elevada humanidade". 

"Talvez a culpa que Cristo tinha de pagar, consistisse no fato de ter exercido um grande poder nessa outra humanidade, mas em sentido egoísta, de tal modo a ter de repelir, com terror, qualquer soberania de tipo AS para usar todas as suas forças em sentido altruísta..." 

Porém, no livro DEUS E UNIVERSO, capítulo XIV, A ESSÊNCIA DE CRISTO, dá a entender justamente ao contrário, isto é, que Cristo tenha sido um elemento do Sistema, senão vejamos. "Chegamos, assim, ao nó central de uma questão tremenda: quem era o Cristo? Todos nós mais ou menos conhecemos a Sua figura humana, historicamente retraçável. Mas que haveria por trás dela? Eis o grande problema. Certamente; estes quesitos não se podem nem ao menos formular para a forma mental da ciência moderna, pois com os seus métodos de conceber, eles não são solúveis." 

"As religiões não dão explicações racionais cabais e são obrigadas a recorrer aos únicos meios pelos quais tais problemas se podem apresentar ao involuído atual: o mistério e a fé. Procuremos, pois, compreender. "A luz verdadeira é "aquela que ilumina - todo homem que vem a este mundo" e o espírito, a centelha de Deus, que se manifesta como consciência, o saber-se "eu", a fundamental qualidade e sensação do ser. A treva é a inconsciência, a ignorância, que se torna cada vez mais densa, à medida que se precipita no anti-sistema, involvendo na matéria. De onde provém a luz verdadeira. De Deus, centro do sistema, e ela o anima por completo. Ela é sinônimo de consciência e de vida, é o espírito, é a substância do ser, que permanece Substância em cada um dos seus três aspectos ou momentos. Cristo é, pois, a luz irradiada por Deus, está conexo com Deus e provém do centro do sistema. Ele mesmo, de fato, repetidamente, se declara Filho de Deus." 

"João fala claro: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós". O espírito de Cristo era, pois, o Verbo. Já vimos que este é o segundo momento da Trindade, em que a idéia (espírito), dinamizando-se, encaminha-se à ação, o momento da gênese, do Pai, de Quem nascem todas as coisas, isto é, de que deriva o terceiro momento, a obra completa na forma. Mas o Cristo, aquele que o homem viu na Terra, era o Verbo feito carne, isto é, o Verbo não mais como o segundo momento, mas como terceiro; ou seja, era o Pai imerso na Sua manifestação em nosso plano físico, não mais apenas dinamismo sem forma concreta, mas revestido de matéria. Ele é, pois, o Filho derivado do Pai, o Unigênito do Pai, como lhe chama João. Tudo isto corresponde perfeitamente à estrutura do sistema, como acima descrito e representa a sua fase mais periférica, mais distanciada do centro - Deus; aquela em que o espírito, provindo do centro, submerge nos antípodas, na matéria." 

Com o progresso da ciência, que aponta a nossa Terra apenas como um ínfimo grãozinho de poeira cósmica, torna-se cada vez mais inadmissível o antropomorfismo, que pretendia fazer dela o teatro dos maiores acontecimentos da criação. Não é concebível que a vida possa estar toda aqui. E, se Deus enviou Cristo como seu representante, torna-se cada vez mais difícil que Ele se tenha ocupado apenas de nossa humanidade, esse Deus que deve sê-Lo não apenas para nós, mas para todo o infinito Universo que escapa a qualquer medida e compreensão nossa. Por que devemos acreditar que Cristo tenha sido o único meio da intervenção de Deus para salvar o ser decaído, quem sabe em quantas e variadas formas? Por que admitir que Cristo tenha sido o único raio enviado pelo Centro para reanimar e reconstruir o universo desmoronado? Deve-se acreditar ter Cristo eventualmente, desempenhado, também em algum lugar, a sua missão redentora, ou ainda, já que o campo por ele escolhido tenha se limitado à Terra, que se tenha valido de outros colaboradores, com Ele enviados por Deus a todo o universo, que igualmente deve ser repleto de vida. Como separar os fatos da vida terrena dos acontecimentos da vida cósmica? 

No Evangelho de João estão as palavras de Cristo dirigidas ao Pai:

"Para que o Filho Te glorifique a Ti, porque Lhe conferiste poder sobre toda a humanidade"

"Quem me vê, vê o Pai"

"O Pai, que habita em Mim, faz estas obras. Crede-me que estou no Pai e o Pai está em Mim" 

"O Pai, que me enviou" 

Diante do exposto, faço a seguinte indagação: Como conciliar esta aparente incongruência? 

Resposta - Por Pedro Orlando Ribeiro 

Para compreender estas colocações de Ubaldi é necessário levar em conta que a obra ubaldiana é um todo orgânico, espelhando – como não poderia deixar de ser, por ser uma obra inspirada pelo Alto – a constituição orgânica do todo. Assim, ela forma um todo em que as suas diversas partes se fundem numa unidade maior. Ao estudarmos um determinado ponto devemos ter em mente que existe um embasamento comum a todos os temas abordados. 

Assim a obra foi construída de conformidade com a lei da evolução. Ubaldi chegou a afirmar, no livro Deus e Universo, que constituía-se num fenômeno em evolução: No Capítulo XIV: "A essência do Cristo" do volume Deus e Universo, escrevi na Itália em 1942 e publiquei no Brasil em 1954, estas palavras: Sinto que nestas paginas se aproxima a visão do conceito da essência do Cristo numa primeira aproximação, prelúdio de uma compreensão mais profunda que alcançará seu ápice no último volume, coroamento de toda a Obra". Ao concluir o referido capítulo eu confirmava: "Encerro esta visão sobre a essência do Cristo, primeiro esboço de visões maiores". Tinha consciência assim, desde aquela época, que minha compreensão do assunto constituía-se num fenômeno em evolução. 

De uma entrevista de Ubaldi em 1968 à José Amaral retirei o seguinte trecho: 

"JA — Que pensa, Prof. Ubaldi, a respeito do livro Cristo, tão ansiosamente esperado? 

UBALDI — O livro Cristo será o coroamento da obra. O vértice da pirâmide e também o ponto final de minha vida e o término de minha missão. Quando chegar a hora, saberei o que devo escrever. Mas sei que pouco falarei da vida humana do Cristo, mas muito de Sua vida divina, a respeito do que ele verdadeiramente é, independentemente da sua permanência na Terra. 

Este livro aparecerá quando eu estiver perto da morte. Para perceber o Cristo é preciso que o corpo esteja diminuindo. E quanto mais isto acontece com a velhice, tanto mais percebo que a visão do Cristo está se aproximando, tomando-se cada dias mais clara. 

Este livro já estava planejado quando eu escrevi um dos primeiros volumes da Obra: Ascese Mística. No fim da 2ª parte; no capítulo III, “A Dor”, lê-se: "Cristo me espera, e no fim descerá o marco interior da devoção, e do amor". "No fim de tanto trabalho da mente e do coração, depois de tanto escrever, só uma palavra ficará: Cristo. Sobre esta palavra, que é a síntese suprema do conhecimento e do Amor, eu me curvarei satisfeito e feliz". 

O livro Deus e Universo foi escrito em 1942 e o volume Cristo em 1971. Neste intervalo a visão de Ubaldi sobre a personalidade de Cristo amadureceu e ele alcançou uma compreensão mais profunda sobre o tema. 

Ao escrever Deus e Universo, Ubaldi atravessava uma fase de intenso deslumbramento com as revelações que recebia do Alto, e assim seus escritos refletiam o explosivo dinamismo espiritual que vivia. A figura de Cristo surgia como um gigantesco sol que ofuscava seu horizonte espiritual. Já ao redigir o livro Cristo, Ubaldi já dominava totalmente a técnica inspirativa (Cf. Um Destino Seguindo Cristo) e em conseqüência o fluxo inspirativo era mais calmo, sem o caráter explosivo das primeiras revelações, deste modo Cristo aparece mais próximo e revela o Cristo-Homem em contraste com o Cristo-Deus do primeiro livro. 

A passagem que o levou a considerar que poderia haver uma contradição entre os dois livros é a citação do Evangelho de João (Cap. 17: 1-2,4). Nesta citação Cristo afirma ser filho de Deus e enviado do Alto e com poder sobre toda a humanidade e conclui afirmando que ele e o Pai formam uma unidade. Tudo isto realmente é verdadeiro e não é passível de contestação. O que não foi dito nesta passagem é que também as outras criaturas são filhas de Deus, pois também foram criadas da substância Divina original. Ubaldi explica isto claramente: 

Há três modos de existir do Tudo-Uno-Deus, isto é, como: 

I - Espírito (concepção) 
II - Pai (verbo ou ação) 
III- Filho (o ser criado). 

"(...) É deste processo que nasceu a Criação, que foi chamada o Filho, gerado pelo Pai e permanecendo sempre idêntico a Deus. (...) A realidade da origem divina ficou impressa no ser, porque dela ele se originou. Assim todos são filhos do Pai, e constituem o terceiro modo de existir do Tudo-Uno-Deus, isto é, o Filho."

Pode-se agora compreender porque afirmamos, aqui, que Cristo é realmente Filho de Deus. Ele como criatura do Sistema derivara do Pai, era da mesma substância de Deus. É assim que podemos dizer que ele era a 2ª pessoa, pois era o 3º momento da Trindade. É deste modo admissível que ele seja Deus, uno com o Pai, que é o Verbo criador, ao qual o Filho, como cada ser, deve a sua gênese. Compreendendo-se o fato de Cristo se referir constantemente ao Pai com um sentido de unidade e identidade, e falar de regresso ao seio deste. Isto porque os espíritos do Sistema são sempre Deus, mesmo que no seu 3º modo de ser: o de Filho. 

Agora fica fácil compreender que todos nós e Cristo somos feitos da mesma substância Divina. A diferença entre as outras criaturas e Cristo é fruto da imensa defasagem entre as nossas posições evolutivas e o altíssimo grau evolutivo alcançado por Cristo. Quando Cristo afirmou que Ele e o Pai eram um, Ele já havia alcançado a unificação consciente com a Divindade e estava deixando o AntiSistema para regressar ao Sistema. Este fenômeno também acontecerá com toda a humanidade, mais cedo ou mais tarde. Quanto ao fato de ser ele um enviado de Deus com poderes sobre toda a humanidade, nada há de mais natural num sistema hierarquizado, (como o é o nosso Universo) que o de colocar no vértice da pirâmide a criatura mais evoluída: 

"Desse modo Cristo é nosso irmão e mestre e como tal tem o direito de elevar-se como exemplo, porque fez aquilo que cada um de nós deverá fazer, obedecendo como Ele a Lei de Deus. (...) Ele enfrentou o inimigo e fez primeiro aquilo que todos deverão fazer e farão para cumprirem e resolverem o ciclo involutivo-evolutivo. Ele tem o direito de se colocar como exemplo e cabe-lhe a função de modelo, porque a sua paixão não se reduz a de poucas horas que nós nos limitamos a comemorar, mas se projeta nos milênios que cada um de nós deve viver. Ela se condensa num cálice bem mais amargo, o qual consiste em ter de sofrer todas as provas, fadigas e dores do AS, absorvidas hora por hora, até assimilar toda a lição." (P. Ubaldi - Cristo) 

Finalmente devemos compreender que é um tremendo absurdo a crença de que Deus encarnou no nosso mundo. Como Deus é por definição Infinito seria o mesmo que colocar um oceano dentro de uma gota d'água. Encerrar no finito, tal infinito. 


Considerações finais

Concordo com Rohden quando faz a seguinte constatação sobre o Cristo:

"Sendo que esta descida do Cristo cósmico às baixadas do planeta terra, é um fenômeno incompreensível, têm os homens feito inúmeras conjeturas sobre o porquê dessa encarnação do Cristo. E ele mesmo, na pessoa de Jesus, nunca disse claramente da finalidade da sua homificação."

Portanto, as respostas dadas pela espiritualidade brasileira são mais um esforço do espírito humano na tentativa de se aproximar daquele que foi, provavelmente, o maior evento espiritual evolucionário ocorrido neste planeta: o mistério da manifestação do Cristo no plano físico da Terra.

Com esta ideia em mente, vamos buscar, na próxima postagem, desenvolver algumas reflexões sobre o alvorecer de uma Consciência Crística Planetária, assim como, buscar compreender o papel fundamental das revelações crísticas recentes para o surgimento desta nova realidade global. 

L.C. Dias

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