Por Emma Martínez Ocaña
"A espiritualidade ou é política ou tem o perigo de converter-se em espiritualismo, e a política ou é espiritual, ética e defende o bem comum ou é uma prostituição da mesma."
Emma Ocaña
A visão de Ocaña sobre a relação entre política e espiritualidade está muito próxima daquilo que considero como um caminho viável em direção à uma solução para a atual emergência espiritual planetária. A metanoia deve ser pessoal e coletiva, não defendo outra proposta que seja menos inclusiva e integral.
Com a intenção de aclarar esta visão integral e seus inegáveis poderes de ação, apresento um excerto da apostila do curso "Espiritualidade e Política", orientado por Emma Martínez Ocaña e organizado pela Fundação Betânia, de Portugal:
"Chegou o momento de unir ambas as realidades de um modo urgente e inseparável, deixando de as considerar como um lugar para os profissionais para as encarar como uma responsabilidade pessoal. Uma responsabilidade que brota do sentir profundo (pathos) que nos obriga a escutar o grito da Terra e o clamor pungente de milhões de famintos.
Devemos impor a nós próprios como missão irrecusável a concretização da grande transição de uma cultura de imposição para uma cultura de conciliação, de uma economia de guerra para uma economia de desenvolvimento global, de uma atitude de súbditos para a assunção de um papel de cidadãos plenos e participativos. Em suma: temos de fazer valer a força da palavra. Mas há que assumir que sem a contribuição individual de cada um não há horizonte colectivo. Estou a falar de recuperar a política, a que perdeu sentido para muitas pessoas, mas, sem a qual nos vemos a aproximar do abismo. Faço minhas as palavras de Leonardo Boff: temos hoje a profunda esperança de que, finalmente, o século XXI será o século das pessoas, da emancipação dos cidadãos, da voz do povo, da passagem de súbditos invisíveis, anónimos para interlocutores, actores da nova governança.
Por fim, o século XXI pode ser o século no qual todos os habitantes da Terra, sem excepção, que educados e plenamente capazes de dirigir com sentido a sua própria vida, deixarão de ser espectadores resignados e impassíveis para se converterem em agentes da construção, assentes sobre os sólidos fundamentos de princípios universais partilhados, de genuínas democracias à escala local e planetária.
Vivemos num mundo em emergência global entendida como perigo e esperança do novo que está a emergir. Acaba um tempo e um mundo novo quer emergir, mas não vai nascer sem a nossa colaboração. Nascerá através de nós, as mulheres e homens, que estejamos dispostos a colaborar com o bem comum, com o cuidado de toda a vida e tal pressupõe a luta contra todos os mecanismos de morte presentes neste momento histórico. E isto é o que exige, de um modo inquestionável, viver uma espiritualidade política.
É urgente cultivar uma espiritualidade política, uma maneira de estar na realidade e de organizar a gestão e governo da polis que desmonte a miragem da separação, que faça do bem comum o centro dos esforços e preocupações e da protecção de toda a vida a paixão e a urgência.
Chegou a hora de integrar a espiritualidade na política e de os grupos e pessoas conscientes se comprometerem politicamente na gestão da vida em comum, da justiça e da paz. Termino fazendo minha a súplica do Papa Francisco: Rogo ao Senhor que nos dê mais políticos que se preocupem de verdade com a sociedade, com o povo, com a vida dos pobres".
Curso Espiritualidade e Política
- Clarificação conceptual: espiritualidade e política
- Vivemos um mundo em “emergência global”
- Conceito, urgência e exigências de uma espiritualidade política
- O pessoal é político. A inevitável transformação pessoal.
- Uma espiritualidade política como caminho para colaborar em “dar à luz” uma sociedade alternativa, um mundo novo. (Rom 8, 18).
- Uma sociedade que desperta para uma nova consciência planetária que torne autêntica a Unidade que Somos
- Uma civilização que reconheça, de facto, e respeite os direitos das pessoas, dos aninais e da terra
- Uma cultura do cuidado
- Jesus de Nazaré: um homem que viveu uma autêntica espiritualidade política.
L.C. Dias
Para aprofundamento:
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