Por Faustino Teixeira
"O encontro das religiões tem uma indispensável dimensão experiencial e mística. Sem uma certa experiência que transcende o reino mental, sem um certo elemento místico na própria vida, não se pode esperar superar o particularismo da própria religiosidade, e menos ainda ampliá-la e aprofundá-la, ao ser defrontado com uma experiência humana diferente."
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"Cosmoteândrica será, pois, esta visão, esta experiência, de que somos uma parte da Trindade, e que há três dimensões do real: uma dimensão de infinito e de liberdade, que chamamos divina; uma dimensão de consciência, que chamamos humana; e uma dimensão corporal ou material, que chamamos cosmos. Todos participamos desta aventura da realidade."
Raimon Panikkar
Raimon Panikkar
“Raimon Panikkar preferia falar de diálogo ‘intrarreligioso’ ao invés de diálogo inter-religioso. Um diálogo que começa no interior de nós, descobrindo a relatividade das nossas crenças (relatividade, não relativismo) e aceitando o desafio de uma mudança, de uma conversão; uma conversão que começa renunciando à pretensão de possuir toda a verdade; renunciar a uma ideia de verdade que se diz exclusiva, porque a verdade está acima de nós e da nossa religião. O seu projeto era alcançar um ecumenismo ecumênico, além do cristianismo, a busca da harmonia das religiões, além de um sincretismo e uma ‘teoria universal das religiões’, que vinha a ser uma espécie de absurdo ‘esperanto religioso’.”
Victorino Pérez Prieto
Fui apresentado ao pensamento inovador de Raimon Panikkar, por Vicente Merlo, faz uns 10 anos. Desde de então, venho estudando a sua obra com profundo interesse, pois a cada investida, descubro um universo todo novo de aprendizado e sabedoria. Panikkar foi o maior pensador contemporâneo da interculturalidade e do diálogo interreligioso. Une de forma magistral os atributos de filósofo e místico, marca de todos os grandes visionários e sábios da humanidade. Considero as ideias de Panikkar, acompanhadas das de Wilber, Blavastky, Aurobindo e Rohden, como os fundamentos teóricos que alicerçam a minha visão de mundo.
Vejamos o que nos fala Panikkar sobre a espiritualidade:
"A espiritualidade é como uma 'carta de navegação' no mar da vida do homem: a soma dos princípios que dirigem o seu dinamismo para 'Deus', dizem alguns; para uma sociedade mais justa ou para a superação do sofrimento, dizem outros. Podemos, pois, falar de espiritualidade budista, embora os budistas não falem de Deus; e também de uma espiritualidade marxista, ainda que sejam eles alérgicos à linguagem religiosa. Em seu conceito amplo, a palavra espiritualidade expressa sobretudo uma qualidade de vida, de ação, de pensamento etc., não ligada a uma doutrina, confissão ou religião determinadas, ainda que seus pressupostos sejam facilmente reconhecíveis."
A seguir, uma apresentação da vida e obra de Panikkar, feita por Faustino Teixeira, doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), e um dos principais divulgadores do pensamento de Panikkar em terras brasileiras.
L.C. Dias
Raimon Panikkar: a arriscada aventura no solo sagrado do outro
Por Faustino Teixeira
Não há como falar em diálogo interreligioso sem lembrar o nome desse grande buscador que foi Raimon Panikkar (1918-2010). Foi um pioneiro na abertura dialogal, abrindo pistas inovadoras na reflexão sobre o tema. Sua contribuição não se resume ao campo teórico, mas também ao exercício vital de hospitalidade, doação e entrega ao Mistério que habita no solo sagrado do outro. Esse artigo tem como objetivo apresentar o seu itinerário de vida e reflexão, sinalizando alguns dos traços mais significativos de seu original pensamento.
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