Por Huberto Rohden
“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
Eduardo Galeano
Nesta fábula criada por Huberto Rohden é travado um diálogo elucidativo com a abelha Ísis, que representa a sabedoria instintiva presente em toda a natureza. Faz uma analogia com o homem que ultrapassa a razão e se guia pela intuição, responsabilizando-se por governar a si mesmo, em harmonia com a Alma do Universo. Tal sintonia cósmica poderá transformar o ser humano em um agente consciente que propiciará a formação de uma sociedade ideal, uma verdadeira Cosmocracia.
Utopia? Não. Segundo Rohden, se isto é possível na natureza – por que não é possível no reino hominal?
DIÁLOGO
— Tanto mais perfeito é um governo quanto mais cósmico?
— É como diz. Tudo que é belo e grande tem caráter cósmico. Também o indivíduo é tanto mais perfeito quanto mais cósmico, servidor do Todo, panorâmico, universal, amigo de seus semelhantes, uma nota pura sintonizada pela grande sinfonia do Universo…
— Uma sociedade orientada por um fator cósmico seria então uma Cosmocracia…
— Exatamente, muitos indivíduos, governados, não por outro indivíduo, mas pela grande Alma do Universo, refletida na consciência de cada um. Seria o ideal.
— Entre nós, homens, há indivíduos que se arvoram em chefes e soberanos por conta própria, sem consultar a alma do Cosmos.
— Que aberração! Nunca pensei que entre seres racionais fosse possível tamanha irracionalidade. É um crime contra a Grande Inteligência…
— Mas a parte mais sã da humanidade pensa e age de outro modo: os próprios indivíduos designam aquele por quem querem ser governados.
— Já é meio caminho andado, rumo à Cosmocracia; mas ainda está longe do termo da jornada. Nós não escolhemos soberano algum. Não há intermediário entre nós e a Alma do Universo. É esta própria Alma, a grande Inteligência, a infinita Realidade, a suprema Divindade, que nos rege e governa. Quando os homens chegarem à perfeição, saberão governarem-se a si mesmos, sem chefe nem intermediário algum. Não haverá ordens vindas de fora, só haverá uma ordem vinda de dentro, eco daquele grande Imperativo do Universo que tudo dirige com força e suavidade, de um a outro extremo do Cosmos. Quando o vosso dever se transformar em querer, e esse delicioso querer se identificar plenamente com o onipotente dever então será perfeita a vossa harmonia social, e perfeita será também a vossa felicidade individual. E a vossa harmonia e felicidade serão infinitamente maiores do que as do povo das abelhas…
— Pelo que vejo Ísis, vós, o povo das abelhas, sois muito mais avançados no caminho da evolução do que nós, os homens.
— É engano, grande engano, amigo homem! A nossa Cosmocracia é muito imperfeita.
— Como assim, amiga Ísis?
— Porque nem atingiu o nível da inteligência individual, que é a atmosfera da humanidade. Essa inteligência individual é o vosso maior privilégio — e também o vosso maior perigo. Ai de quem parar nesse nível e se negar a ultrapassar esse estágio evolutivo!… Dia virá, porém, após muitos milhares de primaveras, dia virá em que o homem inteligente de hoje atingirá as luminosas alturas da racionalidade, ou, como dizem os vossos livros, da espiritualidade. Terminará então a luta de indivíduo contra indivíduo, de grupo contra grupo. Será proclamada a grande lei Cósmica, do amor espontâneo e universal — a perfeita e definitiva Cosmocracia…
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