Por François Jullien
"A pretensão do Ocidente à universalidade o leva cada vez mais a entrar em conflito com outras civilizações, em particular o Islã e a China. O diálogo emerge aqui como opção e em oposição ao choque. Não se trata, portanto, de afirmar a noção de “identidade cultural” fundada sobre a diferença e, sobretudo, sobre uma concepção simplista e reducionista que caracteriza as culturas com base em seus traços mais óbvios, o que é inevitável fonte de antagonismos, mas de reconhecer a fecundidade dos distanciamentos e das diferenciações culturais como fonte a ser explorada."
François Jullien
Considero o diálogo intercultural como um dos pontos cruciais a serem trabalhados para acelerar a maturação de uma metanoia planetária.
Conforme descrito na introdução do último Relatório Mundial sobre a Diversidade Cultural da UNESCO:
A diversidade cultural vem suscitando um interesse notável desde o começo do novo século. Porém os significados que se associam a esta expressão “cômoda” são tão variados como mutáveis. Para alguns a diversidade cultural é intrinsecamente positiva, na medida em que se refere a um intercâmbio da riqueza inerente a cada cultura do mundo e, assim, aos vínculos que nos unem nos processos de diálogo e de troca.Para outros, as diferenças culturais fazem-nos perder de vista o que temos em comum como seres humanos, constituindo assim a raiz de numerosos conflitos. Este segundo diagnóstico parece hoje mais crível na medida em que a globalização aumentou os pontos de interação e fricção entre as culturas, originando tensões, fraturas e reivindicações relativamente à identidade, particularmente a religiosa, que se convertem em fontes potenciais de conflito. Por conseguinte, o desafio fundamental consistiria em propor uma perspectiva coerente da diversidade cultural e, assim, clarificar que, longe de ser ameaça, a diversidade pode ser benéfica para a ação da comunidade internacional. É esse o objetivo essencial do presente relatório.
No artigo, Jullien adota uma perspectiva intercultural para questionar as limitações da noção ocidental de universalidade dos diretos humanos, na forma concebida pela modernidade. Neste sentido, busca esclarecer as distinções entre universal, uniforme e comum, conceitos que considera fundamentais para a compreensão da dinâmica do diálogo entre as culturas. Defende a construção de um novo universalismo, baseado na diferença e refratário ao relativismo cultural.
Segundo Jullien:
O ocidente tenta impor para todos os povos do mundo, independentemente de sua cultura, o conceito de direitos humanos. Exige que eles se adequem aos seus preceitos, sem exceção ou brechas. E esquece que essa mesma construção ideológica foi forçada goela abaixo dos próprios europeus.
François Jullien especializou-se em pensamento chinês e afirmou-se como um importante teórico do diálogo intercultural no contexto do mundo globalizado. Eminente filósofo francês, é professor na Universidade Paris 7 – Diderot, onde dirige o Instituto do Pensamento Contemporâneo. É membro sênior do Instituto Universitário da França, já presidiu o Collège International de Philosophie e a Associação Francesa de Estudos Chineses. Seus livros estão traduzidos em mais de 20 países.
L.C. Dias
Aprofundar em:
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