Por Paul Levy
Estamos realmente vivendo em tempos sombrios. Mais precisamente, estamos vivendo em uma época em que a escuridão está emergindo das sombras e se tornando visível.
Os eventos políticos e sociais atuais são a manifestação de um processo mais profundo que vem fermentando no caldeirão do inconsciente coletivo da humanidade há muitos anos, talvez até mesmo desde o início de nossa aparição neste planeta.
É fácil e muito sedutor ficar dominado pelo pessimismo, desespero e depressão durante esses tempos de escuridão, o que, infelizmente, seria alimentar, involuntariamente, e conspirar com a escuridão.
Nossa situação é terrível, mas não há necessidade de pessimismo. Para citar um ditado popular: "a hora exige otimismo; guardaremos o pessimismo para tempos melhores". Porém, tanto o pessimismo quanto o otimismo extremos obscurecem o que é necessário: a visão clara de ver as coisas como elas são.
O que o mundo precisa mais do que qualquer outra coisa é que cada um de nós tenha a coragem de seguir o próprio chamado, entrar em contato com a nossa verdadeira vocação e compartilhar nossos dons criativos com o mundo de tal forma que conspiramos para co-inspirar uns aos outros (uma verdadeira teoria da conspiração!), ativando assim, viralmente, o gênio coletivo de nossa espécie.
A humanidade está enfrentando atualmente a questão mais importante de nossa história: será que a vida humana sobreviverá neste planeta, pelo menos como algo parecido com a forma que agora a conhecemos?
Muitas vezes quando a escuridão intensa se manifesta no processo de um indivíduo, pode potencialmente levar ao surgimento de uma luz desconhecida dentro dessa pessoa, da qual ela não tinha consciência. Um processo análogo poderia estar acontecendo agora coletivamente?
Vivemos numa época em que nada é mais importante do que a visão clara e, no entanto, agimos como se estivéssemos encantados, enfeitiçados ou adormecidos, estamos cegos.
Esta cegueira é quádrupla: não percebemos que somos cegos (somos cegos para nossa cegueira), estamos cegos para nossa sombra e nossa cumplicidade nas trevas que operam no mundo, estamos cegos para a luz da nossa verdadeira natureza, e estamos cegos em reconhecer que o que está acontecendo em nosso mundo codifica uma revelação oculta que pode nos despertar.
Como se estivéssemos no auge de um vício, as raízes da cegueira na qual atuamos coletiva e compulsivamente encontra-se no inconsciente coletivo de nossa espécie, ou seja, dentro de cada um de nós. Para dizer isso de maneira um pouco diferente: a mudança em nível global deve necessariamente começar dentro do indivíduo.
Podemos continuar a negar a realidade do que está acontecendo - e em um ciclo de feedback autogerado, negar que estamos em negação - ou sair dessa negação e abrir nossos olhos e olhar para o pesadelo coletivo que involuntariamente somos co-criadores.
Precisamos abrir os olhos e olhar com firmeza para o que está diante de nós. O maior perigo que a humanidade enfrenta, em última análise, não vem de fora de nós mesmos, mas sim das forças obscuras inconscientes dentro de nós que até agora não queríamos ou não podíamos enfrentar.
À medida que passamos por uma noite escura da alma para toda a espécie - a mítica jornada noturna pelo mar - nossas ilusões sobre o mundo em que vivemos estão sendo destruídas no processo, o que significa que todos nós estamos passando por um trauma coletivo que, em vez de ocorrer em um momento do tempo histórico, está se desdobrando ao longo do tempo sem um ponto final à vista.
Como espécie, estamos passando pelo trauma de uma experiência de morte / renascimento - uma provação iniciatória xamânica - que necessariamente requer uma descida às trevas do inconsciente em que estamos destinados a confrontar nosso lado mais sombrio. Já não podemos adiar este encontro com nós mesmos, a hora é agora.
Estamos realmente vivendo em tempos apocalípticos. Algo que é mais importante que saibamos - sobre nós mesmos e nosso lugar no mundo - está sendo revelado a nós neste processo. Psicologicamente falando, "o apocalipse" significa o evento propiciador, que abalou o mundo com a vinda do Eu (Superior) à realização consciente.
Considere isto: o que está acontecendo no cenário mundial é o próprio evento arquetípico no qual todos nós nascemos para conscientemente fazermos parte, desempenhando nossos papéis e dando suporte a este processo - o que quer que seja destinado para cada um de nós fazer.
Nós estamos sendo convidados - convocados - pelo próprio universo a participar conscientemente de nossa própria evolução! Ou será que estamos operando em harmonia com o divino, co-criando o apocalipse juntos… No entanto, se acabarmos nos destruindo, serão as mãos humanas que apertarão o botão, por assim dizer.
Da mesma forma, se o amor de Deus substituir a velha ordem por uma nova era, será a criatividade humana que moldará este amor divino através do nosso próprio coração.
(Paul Levy)
FONTE: Excertos do prefácio escrito por Paul Levy para o livro "Radical Regeneration: Birthing the New Human in the Age of Extinction" de Andrew Harvey and Carolyn Baker.
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