Por Stanislav Grof
Tudo o que vem à existência precisa ser contrabalançado pelo seu oposto. Desta perspectiva, a existência de polaridades de todos os tipos é um pré-requisito absolutamente indispensável à criação dos mundos dos fenômenos.
Este fato tem seu paralelo nos experimentos e especulações dos físicos modernos sobre a matéria e a antimatéria. Agora pensa-se que nos 6primeiros momentos do universo, as partículas e as antipartículas estavam presentes em números iguais.
Um dos "motivos" para a criação parece ser a "necessidade" do princípio criativo de conhecer-se, para que "Deus possa ver Deus" ou "a Face possa contemplar a Face".
Na medida em que o divino cria para explorar seu próprio potencial interno, a não expressão da extensão total deste potencial significaria um autoconhecimento incompleto.
E se a Consciência Absoluta é também o Artista, Experimentador e Explorador supremo, a riqueza da criação ficaria comprometida se algumas opções significativas fossem deixadas de fora.
Os artistas não limitam seus tópicos àqueles que são belos, éticos e enaltecedores. Eles retratam quaisquer aspectos da vida que proporcionem imagens interessantes ou prometam histórias intrigantes.
A existência do lado sombrio da criação realça seus aspectos luminosos provendo contraste e confere extraordinária riqueza e profundidade ao drama universal.
Neste sentido, algumas das pessoas que vivenciaram um encontro transpessoal com o "Mal Cósmico" tiveram alguns insights interessantes sobre sua natureza e função na trama universal das coisas. Elas notaram que este princípio está intrincadamente entrelaçado na tecedura da existência e que ele permeia todos os níveis da criação através de formas cada vez mais concretas.
Suas várias manifestações são expressões da energia que fazem com que as unidades dissociadas de consciência sintam-se separadas umas das outras. Ele também as aliena da fonte cósmica, a Consciência Absoluta indiferenciada. E assim ele evita que elas se conscientizem de sua identidade essencial com esta fonte e também de sua união básica umas com as outras.
Deste ponto de vista, o mal está intimamente ligado ao dinamismo ao qual me referi como "dissociação cósmica”, “isolamento", ou "esquecimento". Como o jogo divino, o drama cósmico é inimaginável sem protagonistas individualizados, sem distintas entidades separadas, a existência do mal é absolutamente essencial à criação do mundo tal o conhecemos.
(Stanislav Grof)
FONTE: O Jogo Cósmico - Explorações das Fronteiras da Consciência Humana, Editora Atheneu, 1998.
Comentários
Postar um comentário