Carta de Desligamento da Sociedade Teosófica

“Não é fácil tomar uma decisão desta natureza. Principalmente, quando os laços de amizade, respeito e admiração continuam vivos em relação a muitos membros da ST.

A ST foi para mim uma grande escola, não somente em virtude dos ensinamentos teosóficos e da convivência fraterna, mas também, por ter contribuído de forma decisiva no meu amadurecimento espiritual. Graças a ST, a minha fase romântica da busca espiritual foi ultrapassada. Poderia afirmar, utilizando o linguajar teosófico, que fui tocado, nem que seja sutilmente, pela luz de buddhi.

Porém, este tímido despertar não foi suficiente para elevar a minha consciência para além dos inevitáveis paradoxos que se abrem a todo buscador que percebe os limites intrínsecos dos saberes humanos e da tentativa de sistematizar o que é divino e transcendente.

Percebo isso na evolução da obra de HPB. No início, com os portentosos volumes de Ísis e a DS, e no final, com a Chave e A Voz do Silêncio. Fazendo um jogo de palavras, me parece que a mensagem final de HPB foi que para encontrar a chave que desvela a doutrina secreta seria necessário ouvir a voz do silêncio.

Por mais que sinta uma profunda afinidade com os ideais teosóficos da fraternidade universal e da busca da verdade, existem algumas questões de foro íntimo que me impedem de continuar a caminhada teosófica junto daqueles que vivenciam o espírito da Teosofia e estão comprometidos com a proposta da ST.

Talvez as contradições que percebo no movimento teosófico sejam uma projeção das minhas próprias contradições internas, fruto daquele aspecto da mente que foi qualificado por HBP como o assassino do real. Entretanto, preciso transcender estas contradições se pretendo servir de coração à causa teosófica.

Não sei ainda se o meu afastamento é definitivo, mas gostaria de agradecer desde já por todo apoio e incentivo que tu proporcionaste em minha jornada interior e estou certo da longevidade de nossa amizade.

Aproveito, também, para agradecer a todos da ST por estes anos de convívio fraterno e aprendizado constante.”